Na quarta-feira 13/08/2014,
quando me dirigia a um restaurante para almoçar com amigos recebi ligação de
uma colega da universidade informando-me sobre a morte de Eduardo Campos. Ao informar
os dois colegas que me acompanhavam, a primeira reação foi de incredulidade.
Chegando ao restaurante a TV
ligada no plantão jornalístico confirmava a notícia. Imediatamente um dos meus
interlocutores disparou: foi o PT. Olhei espantado para ele e, antes que eu
pudesse processar o raciocínio, ele emendou: essa eleição se encaminhava para
um segundo turno de Aécio contra Dilma com provável vitória de Aécio. A quem
interessaria desestabilizar o tabuleiro?
O almoço prosseguiu com
nossos olhos voltados para a TV. Ante o desencontro de informações no momento
imediato após a queda do avião, entre uma garfada e outra, mais especulações.
De volta ao trabalho,
inevitável conectar os sites de notícias e o Facebook. Qual não foi minha
surpresa ao constatar que meu interlocutor do almoço não estava sozinho.
Inúmeros posts com a mesma especulação sobre suposto atentado povoavam as
mídias sociais.
Não demorou muito emergiu na
tela do computador um post de uma notícia revelando que em maio passado a
presidente Dilma havia sancionado uma Lei que tornava sigilosa a investigação
de acidentes aeronáuticos. Adivinhem o teor das dezenas de comentários abaixo
do post?
O tempo foi passando e a
falta de informações claras sobre a causa do acidente somente alimentou a
imaginação dos especuladores. Na sequência emergiram as informações sobre voos
de drones na área do campo de pouso do candidato do PSB. Nova onda de
especulações. Paralelamente os jornais noticiavam que em Recife o povo falava
abertamente pelas ruas sobre atentado à vida de Eduardo Campos.
Não tardou a divulgação da
informação de que a caixa preta do avião estaria desligada e não conteria as
gravações relativas ao voo de Eduardo Campos. Dessa vez, mais do que as pessoas
nas mídias sociais, o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS), agora vice de Marina,
liga para autoridades aeronáuticas e divulga na imprensa suas desconfianças e
exigências de esclarecimento. Ante o questionamento, o próprio ministro da
Aeronáutica se vê forçado a vir a público para dirimir as suspeitas.
A exigência de investigação
isenta e de respostas convincentes varre os blogs independentes, sempre seguidas
de centenas de curtidas e comentários corroborando a percepção de atentado.
Esse tipo de especulação
parece inevitável em casos similares. As mortes de Kennedy, Juscelino e Jango
até hoje são cercadas de mistério e especulações. No caso de Kennedy, realmente
um atentado, as especulações versam sobre supostos mandantes ocultos e que
seriam os “verdadeiros assassinos”.
“Teorias conspiratórias”.
Assim classificam os analistas políticos esse tipo de especulação que cerca a
morte de autoridades em circunstâncias controvertidas.
Ao observador atento não
terá escapado a circulação pela internet de outras especulações que poderiam se
enquadrar na classificação das “teorias conspiratórias”. Trata-se das
vulnerabilidades a fraudes das urnas eletrônicas brasileiras. Não são poucos os
difusores dessas especulações sobre o risco de fraude do resultado das urnas na
eleição presidencial de 2014.
Inquirido sobre isso numa
reunião com amigos, aleguei aos interlocutores que para fraudar-se uma eleição
presidencial seria preciso hackear o sistema de totalização do TSE, visto que
violar milhares de urnas uma a uma dificilmente viabilizaria uma fraude em
larga escala num país das dimensões do Brasil, sem dar na vista. Imediatamente
meus interlocutores introduziram outro argumento: “pois é, mas quem é o
presidente do TSE?” Mais do que apenas o presidente do TSE, o suspeito oculto por
trás dessa interrogação é outro.
Para dirimir quaisquer
dúvidas sobre meu ponto de vista, vou aceitar a tese de que a morte de Eduardo
Campos decorreu mesmo de um acidente e não de um atentado, e de que, mesmo com
a vulnerabilidade já demonstrada das urnas eletrônicas brasileiras e a
possibilidade de fraudes em âmbito local, nenhum agente político teria a
ousadia de invadir os computadores da Justiça Eleitoral brasileira, com a
cumplicidade do presidente do TSE, para fraudar as eleições em curso.
A questão aqui não é essa. A
questão é que, por trás dessas especulações encontramos sempre o mesmo
invariável suspeito: o PT.
Por que será?
Paulo
G. M. de Moura
Cientista
Político
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