sexta-feira, 21 de setembro de 2012

QUAL O IMPACTO DO MENSALÃO SOBRE O FUTURO DO PT?

Sob o ponto de vista da Ciência Política a penetração na classe média e o crescimento eleitoral nos grandes centros urbanos são dois dos principais indicadores sobre a tendência ao crescimento ou decrescimento dos partidos. Para que se considere um partido em ascensão ou decadência é preciso que esses indicadores se confirmem numa série de eleições.

A trajetória do PT é exemplo emblemático de um partido que cresceu comprovando essa tese. A legenda de Lula tem origem em três pilares: 1 - os sindicatos; 2 - as Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica, sob a inspiração da Teologia da Libertação, e, 3 – as organizações de esquerda, remanescentes do fracasso da luta armada contra o regime militar de 1964.

Nesse terceiro segmento é que se encontra a classe média urbana (estudantes, intelectuais, artistas, jornalistas e outros setores sociais) que possibilitaram ao PT fincar raízes nesse segmento estratégico para seu crescimento eleitoral. As universidades foram o viveiro que abasteceu o PT de profissionais com formação técnica e intelectual, que hoje ocupam os milhares de cargos intermediários da máquina pública nos setores do Estado brasileiro que partido controla.

Porto Alegre é um marco icônico desse processo de penetração política do petismo na sociedade. O PT chegou a governar a cidade por 16 anos seguidos e, em 2010, chegou ao governo do estado pela segunda vez. O governo de Olívio Dutra, conduzido por diretrizes de esquerda, anteriores à guinada ao centro, patrocinada por Lula, marca o início da decadência do petismo na capital gaúcha. A vitória eleitoral de Tarso Genro é um ponto fora da curva de decrescimento eleitoral do PT em Porto Alegre. Villa poderá passar para a história como o primeiro candidato petista a ficar fora do segundo turno em Porto Alegre.

Parte do sucesso eleitoral do petismo se explica pelo marketing que fazia de si mesmo. Prova disso é o recall da marca PT. Dentre todas as legendas, a do PT é disparado, a mais lembrada. Por essa razão é que os petistas queriam aprovar o voto em lista e o financiamento público eleitoral. O voto na legenda, e não nos candidatos como é hoje, alavancaria o crescimento do PT. E, como a distribuição do dinheiro público para as campanhas seria proporcional ao tamanho das bancadas, desnecessário dizer quem se beneficiaria com a mudança da regra vigente. Os aliados perceberam e barraram a manobra.

No entanto, tal como ocorreu com o governo de Olívio Dutra no RS, a chegada do PT ao governo federal parece cobrar seu preço do partido de Lula. As razões que explicam a possível decadência do petismo no país são distintas daquelas que abateram o PT de Porto Alegre. Mas, o esboço da tendência é o mesmo. Olívio embretou-se à esquerda e isolou-se socialmente. Lula fez o movimento oposto na sua insaciável fome por poder. E, já dizia Maquiavel, o excesso de poder é o prenúncio da perda do poder.

Até a chegada à Presidência da República o conteúdo da “marca PT” era prenhe de atributos positivos. O PT apresentava-se como monopolista das virtudes da luta pela justiça social e como se fosse a única virgem no cabaré da política. A madre superiora, guardiã da moral e da pureza, policial e censora da corrupção dos outros. Isso até a adoção da política econômica ortodoxa da era Palocci no Ministério da Fazenda, seguida da eclosão do escândalo do mensalão. Desde então, novos atributos vem sendo associados à estrela.

O povo é hipócrita. Com dinheiro no bolso comporta-se com pai de filho drogado. Finge que não vê a corrupção dos governantes. Para construir o cenário econômico positivo dos anos seguintes, Palocci machucou o bolso do povo. Nesse contexto, o escândalo do mensalão levou os índices de aprovação de Lula no Datafolha a 27% em dezembro de 2005, auge dos petardos disparados por Roberto Jefferson contra José Dirceu. A euforia econômica dos anos seguintes anestesiou a memória seletiva dos eleitores que reelegeram Lula, e depois elegeram Dilma com o PIB chegando a crescer 7,5% no ano eleitoral de 2010.

Desde seu segundo mandato Lula vinha abandonando, gradativamente, as diretrizes “neoliberais” que nortearam o Plano Real e a Lei da Responsabilidade Fiscal. A eleição de Dilma, com Mantega no Ministério da Fazenda e Tombini no BC, marcou a adoção clara das concepções petistas sobre a gestão da economia.

Ao que tudo indica, postas em execução, as ideias de Mantega encontraram seus limites e estão derretendo. Dilma flerta com a irresponsabilidade na tentativa sôfrega de estimular o consumo num contexto em que os consumidores estão endividados até o nariz; em que o governo não tem dinheiro para investir em infraestrutura como seria necessário, e em que investidores privados resistem à insegurança de se associarem ao Estado em parcerias público-privadas nas quais o governo petista é sócio incômodo. E, justamente agora, o julgamento do mensalão invade a cena política em pleno ano eleitoral.

O único indicador a sugerir que o mensalão está afetando o desempenho dos petistas nas grandes cidades veio de São Paulo, onde Serra associou o candidato de Lula ao escândalo e abriu 6 pontos percentuais de vantagem sobre Haddad. O petista arrisca ficar fora do segundo pela primeira vez em anos, como seu parceiro de Porto Alegre. Não seria imprudência analítica supor que há sim impacto eleitoral negativo para o PT em função da vitrine diária do julgamento do mensalão na mídia, com condenação de José Dirceu. Genoíno e Delúbio prevista para a véspera do primeiro turno.

No momento em que o PT vai completando dez anos no governo federal, com sua política econômica em estado de observação em pleno julgamento do mensalão, talvez os fatores conjunturais expliquem o insucesso do PT na maioria das principais cidades do país. O PT sairá das urnas com mais prefeitos e vereadores, mas ficará com uma cicatriz na face, a se confirmar a hipótese de que alguns de seus principais líderes venham a passar uma temporada no xilindró. E seu crescimento se dá no interior, em cidades de menor porte. O arranhão na imagem é, justamente, perante a classe média dos grandes centros urbanos.

O governo projeta crescimento de 4% do PIB para 2013 e, se essa projeção otimista se confirmar também para 2014, Dilma tende a preservar condições de se reeleger. No entanto, há na praça análises sérias projetando estouro da bolha de crédito que Dilma segue insuflando. Além disso, os aliados antigos e novos começam a ensaiar projetos próprios num contexto em que percebem que quem transferiu votos para Dilma em 2010 foi o PIB de 7,5% e não Lula, cuja energia vital ficou abalada pelo câncer, e cuja imagem poderá receber estilhaços do mensalão.

Nessa encruzilhada da conjuntura é que se confirmará, ou não, se o PT encontrou o destino dos partidos que entram em decadência após trajetória meteórica rumo ao poder. Não há mal que sempre dure.

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