Na semana passada João Santana, o
marqueteiro de Dilma, anunciou que em cerca de quatro meses a presidente
recuperaria a popularidade perdida com alta da inflação e as manifestações de
protesto de junho. Ontem foi Gilberto Carvalho que anunciou que “em cinco ou
seis meses, quando a economia melhorar” a presidente recuperará o prestígio popular
perdido.
A manifestação de ambos é
compreensível, mas não encontra fundamentos na realidade e nas projeções econômicas
e políticas que se podem fazer a partir do cenário presente. E os argumentos
para defender a tese de que o inferno de Dilma está recém começando são
construídos a partir da sinalização que o próprio governo, a presidente e seus
aliados emitem em resposta à crise que engolfou o governo.
Do ponto de vista econômico há
fatores externos, que o governo não controla, e que contribuíram para a
configuração da situação atual. A Europa estagnada ou em recessão, a China
desacelerando seu ritmo de crescimentos e suas compras internacionais e os EUA
se recuperando e trazendo de volta para casa o tsunami monetário do qual Dilma
reclamava nas “aulas” que pretendeu dar aos norte-americanos e europeus em suas
viagens pelo mundo, sobre como gerir a economia tomando como exemplo o Brasil
por ela governado.
No entanto, é consenso entre os
analistas que a principal causa dos problemas de nossa economia é interna e tem
origem nas escolhas políticas do ex-presidente Lula e da própria presidente
Dilma. Lula surfou a onda de bons preços das commodities a abriu as torneiras
do gasto público com despesas correntes e inchaço da máquina pública; mudou o
marco regulatório Pré-sal e deu vazão ao desmonte da Petrobrás, dentre outras
ações deliberadas que iniciaram o trabalho de sapa aos fundamentos do Real. Em
seguida Dilma assume o comando do Banco Central, afrouxa o controle da inflação
e interfere na recomposição de preços para manipular seus índices; começa a
interferir no câmbio via taxação de investimentos externos para desvalorizar a
moeda; autoriza a contabilidade criativa para maquiar a volta do déficit público
e despeja dinheiro público em estádios padrão Fifa e em investimentos suspeitos
do BNDES em negócios dos amigos do rei.
O conjunto da obra começa a
despertar a desconfiança dos investidores. O resultado da política econômica do
PT é inflação com estagnação econômica e falta de credibilidade do governo para
mudar o curso dos acontecimentos. Na direção e ritmo em que andamos em breve a
estagnação da economia tende a se transformar em recessão e desemprego.
A esses ingredientes somam-se dois
outros, de natureza política, para corroborar a projeção de um cenário de filme
de terror para o período da conjuntura imediatamente à frente.
O primeiro emergiu na cena
econômica a partir da cena política. As manifestações de protesto de junho
tornaram o resultado da eleição presidencial de 2014 uma gigantesca incógnita.
E, todo mundo sabe, o capital é covarde. Na dúvida, não investe, num contexto
em que o investimento público e privado seria a saída da crise após o
esgotamento do poder de endividamento dos brasileiros, incentivados por Lula a
gastar sem controle após a crise de 2008. O congelamento ou redução de
passagens e pedágios somou-se aos fatores que afugentam investidores.
O segundo emerge das entranhas do
governo. A rainha está nua, sozinha e perdida num covil de serpentes. E essa
constatação vale para a condução da agenda econômica e da agenda política.
Do ponto de vista da economia, a
presidente parece ter optado pela esquizofrenia. Por um lado, autorizou o BC a
elevar os juros para conter a inflação. Por outro, segue estimulando o consumo
e recorrendo à contabilidade criativa na aparente expectativa de maquiar o
Frankenstein em que se converteu sua política econômica na tentativa sôfrega de construir
uma situação capaz de sustentar sua reeleição num simulacro de prosperidade que
deixou de existir a muito.
O pressuposto número um para a
recuperação das condições de conduzir o governo até o final de seu mandato
seria a lucidez da presidente, de seu partido e das elites políticas tradicionais
da nação para entender a mudança que está se processando na sociedade a partir
das “jornadas de junho de 2013”. No rumo em que as coisas vão, a eleição
presidencial está perdida para Dilma. No lugar dela, um estadista de verdade
botaria o foco no futuro na nação e tentaria salvar as condições de recuperação
da economia para o novo governo. Seja ele quem for.
Não é o que se vê. Mesmo que
quisesse, e não parece ser o caso, a presidente não pode mexer no seu governo
nesse momento sob pena de piorar ainda mais suas precárias condições políticas.
Que paradoxo! Dilma precisa mudar seu governo e ao mesmo tempo não pode mudá-lo
sem correr o risco de fragilizar ainda mais sua sustentação política junto a
aliados que operam para isolá-la e enfraquecê-la ainda mais. Inclusive muita
gente do próprio PT conspira contra Dilma. Confesso que só não sinto pena da
presidente porque sua situação parece merecido castigo divino. Rezo todas as
noites para chegarmos em paz às urnas de 2014.
Mas, não é só Dilma que está
perdida. O fracasso da greve geral convocada para ontem, na qual as centrais
sindicais precisaram alugar “povo” para engordar mirradas passeatas demonstra
que toda a elite que nos governa não sabe o que fazer para controlar o
incontrolável. O silêncio de Lula é eloquente. A autorização para a fracassada greve
geral teria partido dele como tentativa de ressuscitar os aparelhos sindicais
que outrora serviam como porta-vozes dos anseios populares.
Num cenário de pressões
inflacionárias, elevação da taxa de juros, estagnação ou recessão e desemprego,
e no qual nenhuma das aspirações da população que foi às ruas em junho pode ser
satisfeita no curto prazo (fim da impunidade aos corruptos e melhoria dos
serviços públicos de transporte, saúde, educação e segurança), não há saída rápida
e sem dor para Dilma, mesmo que ela estivesse fazendo a coisa certa. E não
está!
Lula, orgulhoso, atribui a si
mesmo a mudança pela qual o país está passando. E, em boa parte, é verdade, mas,
num sentido frontalmente oposto ao que ele entende e desejaria que fosse. O
futuro que Lula construiu não sorri para ele e nem para seu PT. Muito menos
para Dilma. O povo voltará às ruas.
O futuro que virá não sorri para o PT tanto quanto não sorria para a nobreza do Antigo Regime. Dilma pode tanto quanto Maria Antonieta. Mas haveremos de reconhecer que o mundo que mudou foi mudado mais pela confluência de recursos cognitivos não humanos que estão tornando a rede mais eficiente do que a hierarquia.
ResponderExcluirAí, o futuro da universidade como homologadora de diplomas, o futuro dos professores universitários, orgulhosos de seus títulos, será carrancudo para as instituições em geral. O que vimos nas ruas dialoga com o século XX, não com o PT. Nessa onda, igreja e universidade são tão carcomidas quanto se julgam opositoras.
O futuro será como prevê professor Paulo. Mas isso deveria causar um frio na espinha de quem afirma ter se vendido ao futuro dos filhos...