A presidente Dilma esforça-se
para transparecer que o momento é de normalidade e que reina a calmaria na cena
política. O anúncio da equipe econômica foi o lance principal desse esforço
para impor uma agenda positiva ao noticiário dominado pelo escândalo da
Petrobrás e pelos números cada vez piores da economia.
O “mercado”, dizem, reagiu bem
aos três nomes. Sempre acho estranha essa propensão ao otimismo e ao desejo de
acreditar no governo que essa entidade abstrata que chamam de “mercado” revela pela
boca de certos comentaristas. Qualquer analista com conhecimentos parcos da
teoria econômica poderia prever, com base nos livros e na experiência, que as
aventuras de Dilma e Mantega na condução da economia só poderia dar no que deu.
As estripulias começaram quando
Mantega assumiu o ministério da Fazenda esforçando-se para destruir o trabalho
de Henrique Meireles no BC, para conter a inflação. Isso, no entanto, não
impediu a conceituada revista The Economist, de insuspeitas inclinações
liberais, de publicar aquela capa com o Cristo Redentor disparando aos céus
como um foguete a representar a suposta consistência dos rumos do Brasil sob
comando petista.
Não bastaram a teoria e as
experiências pregressas com as concepções econômicas de Dilma e Mantega para
The Economist projetar o cenário que hora se apresenta. Foi preciso o fracasso
se apresentar como evidência e prova para que The Economist publicasse outra
capa com nosso Cristo voando como galinha rumo ao fundo da baía da Guanabara.
E o erro se repete com a anúncio
da “nova” equipe econômica. A toada dos comentaristas chapa branca reconhece os
tempos difíceis, afinal, não dá para negar o óbvio, mas revela otimismo e
confiança de que Dilma teria se rendido e jogado os livros nos quais estudou
economia no lixo e mudado de posição para o extremo oposto.
O fiador desse otimismo
injustificado é Joaquim Levy. Somente ele. Nelson Barbosa reza pela cartilha de
Dilma e Mantega em matéria econômica e somente saiu do governo por discordar da
criatividade de Arno Augustin no trato da contabilidade governamental.
O aumento dos juros logo após a
eleição foi percebido pelo “mercado” como sinal de independência do BC. É o
contrário. O aumento dos juros se fazia necessário muito antes da eleição e só
não aconteceu porque Tombini obedeceu as ordens de João Santana. Tombini
somente foi guindado à presidência do BC por ser submisso à Dilma.
As tintas com que mandaram pintar
a fachada da “nova” política econômica, de fato, respondem à necessidade
incontornável de corrigirem-se as trapalhadas de Dilma e Mantega nos dois
últimos mandatos presidenciais. Levy é um cavaleiro solitário lutando contra o
exército de ministros da Dilma, todos sedentos por gastar, gastar e gastar.
Os otimistas baseiam seu otimismo
na comparação entre o governo Dilma II com o governo Lula I. Ocorre que os
ajustes ortodoxos patrocinados por Palocci no governo Lula I foram
implementados tendo como base uma economia com os fundamentos organizados
legados por FHC ao seu ingrato sucessor.
A situação atual é muito
diferente. Não há mais dinheiro sobrando no mundo com disposição para correr
riscos em apostas em quem pensa e governa como Dilma e o PT. Há quem confunda
inflação com o índice que o IBGE divulga de tempos em tempos. O índice é apenas
o índice. Inflação é um fenômeno econômico decorrente do descontrole do gasto
público e não do aumento ocasional do preço do chuchu, do tomate, da carne ou
dos ovos.
Enquanto os fundamentos da
economia não forem reorganizados, não bastará ao BC aumentar ainda mais, e sem
convicção, os juros, para conter a inflação. A bagunça é tamanha que torna
difícil entender-se a pressa com que o “mercado” sorriu para Dilma olhando para
Joaquim Levy.
As análises mais sérias que se podem
encontrar nas páginas dos jornais projetam um cenário de prolongada estagnação
(ou recessão) com inflação cercando o teto da meta nos próximos dois anos,
somente caminhando para um crescimento de 2% do PIB em 2018, ano em que Lula
decidiu voltar à Presidência da República. Isso, é claro, se Dilma deixar
Joaquim Levy fazer tudo o que precisa ser feito para consertar seus estragos.
Faltou combinar com os árabes,
que decidiram derrubar os preços do petróleo para um patamar próximo dos U$
50,00 o barril, por cerca de quatro ou cinco anos, para tornar desinteressante
aos americanos o investimento nos novos métodos de produção do ouro negro e do
gás de xisto.
Essa decisão levará a Venezuela
ao colapso nos próximos dias e forçou Cuba a abrir as pernas para Obama, pois
os Castro sabem que da Venezuela e do Brasil não receberão mais almoço “grátis”
às nossas custas. Só o capitalismo, de mercado ou de estado, salvará Cuba de um
destino venezuelano. E isso tem fortes impactos políticos sobre o projeto
bolivariano hegemonista que o Foro de São Paulo projetava para o continente.
Dilma terá que se virar sozinha para sair dessa enrascada.
Tudo indica que recém começa-se a
perceber o tamanho do estrago que a quebra da Petrobrás causará à economia
brasileira. Os custos econômicos dessa aventura patrocinada pelos corsários do
lulopetismo ainda não são claros e crescem assustadoramente a cada dia que
passa. Lula e Dilma gastaram os créditos futuros do pré-sal. A Petrobrás não
tem dinheiro nem crédito para financiar a exploração no mar profundo. Explorar
esse petróleo se tornou desinteressante com o barril a U$ 50,00.
Isso que as investigações nas
demais obras públicas de todo o país e de vários ministérios, da lista de 750
encontradas na planilha de Alberto Youssef, sequer começaram. Dadas as circunstâncias, não convém, também, menosprezar a
declaração do Procurador Federal Hélio Telho Corrêia Filho ao afirmar que o
escândalo do BNDES poderá ser sete vezes maior do que o do petrolão e o do mensalão juntos.
Terá Dilma a humildade, a
competência e a coragem para desfazer a cagada de Lula quando resolveu mudar o sistema
de exploração do petróleo do modelo de concessões criado por FHC, pelo modelo
de partilha? Será possível recuperar a Petrobrás sem privatizá-la? E se a
privatização for inevitável, Dilma venderia o que sobrou da “nossa” queridinha?
E a Eletrobrás? E o BNDES? Duvido!
Bem, até aqui estivemos falando
de economia. Mas economia não é ciência dos números; é ciência do
comportamento. E, não é possível projetar cenários econômicos sem considerar as
variáveis políticas, que também são comportamentais. Não parece que o apressado
otimismo com que o “mercado” recebeu Levy tenha precificado essa variável em
todas as suas dimensões. Até porque, a ignoraram e também, porque os custos
intermináveis dessa roubalheira indiscriminada não param de jorrar das páginas
do noticiário. Impossível precificar agora.
Lula foi chamado à PF para
esclarecer o mensalão e será chamado de novo para explicar o petrolão. Se a PF
está chamando Lula só pode ser porque o nome de Lula já circula nos relatórios
das delações premiadas. Assim como os custos econômicos da destruição da
Petrobrás não param de crescer, a precificação do strike que esse escândalo fará
em todo o sistema político também é impossível agora, diante do desconhecimento
sobre o tamanho da frota de corsários que sangra os cofres públicos a serviço
do projeto hegemonista do petismo.
Num país sério todos os
condenados deveriam pagar penas perpétuas. As empreiteiras deveriam ser
declaradas inidôneas e sofrer intervenção do governo na tentativa de sanear o
setor e salvar algumas com novos donos. Mas, para isso, Dilma, ou o presidente
que vier a sucedê-la depois do impeachment, terá que abrir o mercado às empreiteiras
estrangeiras. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?
Num país sério, certamente, ao
final das investigações desse escândalo, partidos-máfia inteiros terão que ser
extintos e proscritos. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?
Por fim, não convém menosprezar
as manifestações de rua que se seguiram ao fim da eleição pedindo o impeachment
de Dilma. A imprensa mente e distorce os fatos, tenta minimizar e
descaracterizar essas manifestações. Mas, num cenário que combina crise
econômica com crise política e institucional, num contexto em que os pagadores
de impostos serão chamados a arcar com a conta desse descalabro, a hipótese de
que vejamos repetirem-se eventos como os de junho de 2013 não é nada
desprezível. Só que agora há líderes à frente das manifestações de 2014. E são
todos de direita. E os defensores de um golpe militar são minoritários, para
desagrado do PT e da mídia chapa branca.
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