Em junho de 2013 milhões foram às
ruas contra a corrupção e por melhores serviços públicos de transporte,
educação, saúde e segurança. O que ocorreu em 2013 nada tem a ver com as
mobilizações que a esquerda costumava liderar no século XX, sob o comando de
sindicatos, associações de bairro, entidades estudantis e a esquerda da Igreja.
Emergiu no Brasil, assim como na Espanha em 2004, na Tunísia e no Egito em 2011
e na Turquia, Ucrânia e Venezuela mais recentemente, um fenômeno típico das sociedades-rede.
Correndo por fora das organizações
tradicionais, milhões de cidadãos conectados pelas mídias sociais saíram às
ruas para se manifestar e, sem planejar isso como objetivo, derrubaram ou
desestabilizaram governos. Tudo ocorreu sem lideranças, sem organizações de
massas, sem projetos de poder e sem controles.
Na eleição que se encerra, essa
mobilização em rede reapareceu com a militância a favor de candidaturas de
oposição, movida pelo desejo de mudanças. Milhões de pessoas se expuseram nas
ruas e nas mídias sociais, não por que estivessem interessadas em cargos no
governo ou em receber bolsas estatais. O objetivo dessas pessoas era a defesa
das suas liberdades e da democracia, o fim da corrupção e melhores serviços
públicos.
Na eleição, parte da sociedade
que foi às ruas pacificamente em junho de 2013, aderiu às candidaturas de
oposição no primeiro turno e no segundo turno. Os principais candidatos da
oposição souberam encarnar o espírito das ruas e traduziram esse sentimento em
sua união no segundo turno. Em algumas cidades vimos passeatas mobilizadas por
um povo protagonista, fato inédito em eleições tradicionalmente programadas
para o povo ser vaca de presépio em comícios teatralizados para militantes
idolatrarem líderes.
Fecharam-se as urnas. O PT, até
prova em contrário, venceu. O que aconteceria numa eleição tradicional? Os
vencedores se auto elogiariam; os derrotados reconheceriam a vitória; o povo se
recolheria à condição de expectador passivo à espera do próximo pleito.
Não é isso que acontece. Os cidadãos
que não são controlados por partidos seguem nas ruas. Em São Paulo, Porto
Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Belém e outras cidades,
milhares saíram às ruas dia 01/11/2014 exigindo auditoria da apuração das
eleições presidenciais e investigação séria do escândalo do petrolão. No
próximo dia 15 estão programadas manifestações em todo o país, com foco na
auditoria das urnas e na investigação da corrupção na Petrobrás.
Esse povo se mostra disposto a
fazer a oposição que os partidos de oposição nunca fizeram. Essas pessoas
estranharam o tom conciliador do Aécio derrotado e aplaudiram a contundência oposicionista
que seu ex-candidato a vice, o senador Aloysio Nunes Ferreira, imprimiu à sua
primeira fala pós-eleitoral. Aécio recalibrou o discurso e voltou à cena com um
vigoroso discurso oposicionista no Senado.
A origem do PSDB não é a rua. O
partido nasceu da soma de intelectuais acadêmicos e políticos de centro-esquerda,
pretendendo ser uma socialdemocracia de estilo europeu, mas sem as bases
sindicais que marcaram o nascimento de seus congêneres do velho continente na
segunda metade do século XIX.
O banho de rua que Aécio Neves
levou nessa eleição que agora se encerra, foi uma novidade para os tucanos. Se
Aécio quer liderar a oposição terá que se deixar liderar por seus liderados nas
ruas e nas mídias sociais. Se não o fizer será esquecido; ignorado; atropelado.
Não bastará à oposição contestar, apenas na tribuna do
parlamento, as medidas autocráticas que o PT pretende implantar para garantir
sua perpetuação no poder. Sem povo na rua o Brasil seguirá sua marcha insana
rumo à venezuelização.
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