Independentemente de idade é
difícil que algum brasileiro tenha passado por experiências tão intensas quanto
as de 2016. O país experimenta o mais profundo processo de transformação da sua
história.
Qualquer inventário das mudanças
certamente deixaria algo de fora. E as mudanças não são só no Brasil, mas, no
mundo e inter-relacionadas. Olhando-se para trás, para a dimensão política,
social e econômica das transformações, alguém conseguiria afirmar com 100% de
certeza que esse furacão não afetou suas vidas? Alguém, de sã consciência, pode
afirmar que está absolutamente seguro com o futuro que nos aguarda?
Quem se envolveu com o Movimento
do Impeachment esteve tão intensamente mergulhado nos fatos que talvez somente
agora tenha condições de levantar a cabeça e olhar para trás para avaliar a
dimensão da obra. Mas, esse olhar para trás deve ser breve. É imperativo evitar
a colisão com o futuro. E, ao voltarmos a cabeça para a frente, o que
descobrimos?
Que 2016, poderá não ser o “ano
mais louco de nossas vidas”. Sim, o ciclo da mudança não está completo. Apesar
de tudo o que foi feito para transformar o Brasil num país efetivamente livre,
o farol da liberdade ainda está distante... O PT foi removido do poder, mas a
mentalidade que levou o petismo ao governo ainda está no poder. Lula ainda não
foi preso. O PT ainda existe e opera. Os partidos que nos dominam e controlam o
condomínio do Estado Patrimonialista ainda são os mesmos.
A decisão de remover Dilma
Rousseff do cargo obedecendo as regras do jogo constitucional não era e não é
consenso entre os movimentos de rua. Mas, ela se impôs e venceu. A escolha desse
caminho pressupunha a consciência de que o processo não seria nem linear; nem o
mais fácil, mas o certo.
Como em tudo na vida, destruir é
mais fácil que construir, e, só aquilo que se constrói com trabalho, paciência
e perseverança, trilhando o caminho do certo, finca raízes sustentáveis no
tempo.
A Liberdade é um bem intangível.
Só percebemos seu valor quando a perdemos. Foi preciso que o petismo ameaçasse
roubar a liberdade dos brasileiros para que o povo saísse da letargia para
defender nas ruas, nossas famílias, nossos bens, nossos valores, nosso direito à
liberdade.
Não existem atalhos para a
liberdade. A única certeza para quem escolheu esse caminho e não vai desistir é
de que não há certezas e não há segurança que não sejam aquelas construídas pela
experiência vivida e pela conquista que resulta de árduas batalhas.
Uma parcela do povo brasileiro
ainda não aprendeu essa lição. A imposição de não mais poder viver às custas do
trabalho dos outros não é aceita facilmente por quem se beneficia do status quo.
Há dois tipos de brasileiros que se enquadram nesse perfil. Por um lado, na
base da pirâmide social, estão aqueles que se acomodaram a viver com quase
nada, desde que esse quase nada lhes seja dado por governantes populistas à
testa do Estado. Por outro lado, no topo da pirâmide social, estão aqueles que
se aboletaram no controle da máquina desse Estado para vampirizá-lo.
Estatísticas oficiais comprovam
que a elite do funcionalismo público se compõe de cerca 7% dos brasileiros. A
turma dos supersalários e dos penduricalhos nos contracheques de ativos e
inativos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
A eles, somam-se os brasileiros
das “ONGs” e das máquinas partidárias sustentadas às custas do dinheiro dos
pagadores de impostos.
A eles, somam-se os brasileiros
que vivem das máquinas sindicais, de trabalhadores e empresários, sustentados com
cerca de R$ 3 bilhões/ano que o governo toma dos pagadores de impostos para
financiar burocratas cuja atividade consiste em defender os interesses da casta
que vive de sugar a riqueza de quem produz, em nome da suposta defesa dos seus “representados”.
A eles somam-se os empresários
amigos do rei, cujos negócios são forjados às custas de juros subsidiados dos
bancos públicos, das reservas de mercado, das isenções fiscais compradas com
propinas roubadas de quem trabalha.
Esses, acima, são os cidadãos de
primeira classe. Os donos do poder. Aqueles que não conhecem ainda, o
significado da palavra crise. Os demais somos nós, os cidadãos de segunda
classe que pagamos a conta; empreendedores obrigados a financiar “representantes”
e “bem feitores sociais” cujos interesses e ideologias contrariam seus valores.
Sem medo de errar, pode-se
afirmar que hoje a população brasileira se divide ao meio entre um grupo que
trabalha, produz riqueza e paga a conta, e outro, que vive às custas da
escravização dos primeiros. Aí se encontra a exata dimensão do desafio que nos
espera em 2017. O dinheiro acabou. Chegou a hora de não mais pagarmos essa
conta.
Não vai ser fácil. Vai doer no
(bolso) deles dessa vez. Observe-se como eles não hesitam em usar a violência,
a ameaça, a corrupção, a chantagem e a mentira para defender seu poder.
O economista austríaco Joseph
Schumpeter, em seu livro “Capitalismo, Socialismo e Democracia” (1942), nos
fala da “destruição criadora” para descrever o papel da inovação na economia de
mercado, referindo-se à forma
como o espírito empreendedor destrói os modelos de negócios obsoletos.
Para Schumpeter, a inovação é o motor do
crescimento econômico sustentável, ainda que ao preço de destruir negócios bem
estabelecidas na velha ordem que se desfaz. Na visão do autor, esse processo
corrói o monopólio do poder.
Ouso tomar-lhe emprestado o
conceito para aplicá-lo ao processo político brasileiro em curso. Nossos
empreendedores são os milhões que fomos às ruas entre 2014 e 2016. É chegada a
hora de completarmos a tarefa. Não existe meia liberdade. Quem ousou chegar até
aqui não tem o direito de desistir; nem de recuar. Bem-vinda crise, bem-vindo
2017, o “ano mais
louco de nossas vidas”.