A eleição de 2014 já começou. Nesse momento os entrevistados
escolhem nomes nas enquetes de opinião, mas a maioria dos eleitores não tem o
pleito do próximo ano no centro do seu foco.
A imprensa, os políticos e os empresários, ao contrário;
observam, comentam e especulam: Dilma ou Lula? Aécio ou Serra? Eduardo Campos
vai ou desiste? Marina sobrevive ao tiroteio da disputa?
O foco desse trio está sempre nos nomes. Conflitos táticos
entre os competidores geram manchetes interessantes e especulações para o
colunismo de opinião. Políticos sempre buscam a canoa “certa” na qual embarcar.
E empresários, na política como nos negócios, estão sempre em busca do
investimento “certo”.
Até esse momento, no entanto, ninguém parece preocupado com a
questão de fundo da eleição de 2014. Qual é a agenda das forças que buscam o
poder? Qual é a saída para a situação criada após doze anos de governos
petistas?
A agenda do PT está clara e posta. Até o momento nem o PT,
nem Lula e nem Dilma parecem inclinados a fazer autocrítica. Salvo prova em
contrário, a proposta do PT para o Brasil assenta-se sobre os seguintes
alicerces:
a) Aprofundar a penetração do partido no
Estado e mudar as regras eleitorais e de funcionamento do sistema político para
institucionalizar seu projeto ideológico que visa à implantação gradual de
medidas de cunho socializante valendo-se da receptividade ao paternalismo
estatal dominante na cultura política patrimonialista de todas as nossas camadas
sociais, cerceamento da liberdade de imprensa e expressão dos seus críticos;
b) Conquistar maioria no Parlamento,
reduzir gradualmente o poder dos aliados de esquerda, e eliminar, também
gradualmente, os aliados fisiológicos (em especial o PMDB) através de cooptação
com cargos públicos e posterior denúncia de envolvimento desses parceiros com corrupção
para enfrequecê-los;
c) Aprofundar a tática de cooptação de
setores sociais pelo Estado através da distribuição seletiva de benefícios
econômicos para aliados com vistas a garantir apoio ao projeto de conquista da
hegemonia política e cultural para sua perpetuação no poder;
d) Mais do mesmo na política econômica
“desenvolvimentista” reeditada (Estado empresário ineficiente, intervencionismo
e dirigismo estatal da economia, privilégio político e financeiro para os
“amigos do rei”, déficit público maquiado, endividamento público, protecionismo
e inflação).
A agenda que se contrapõe a esta, salvo alguma novidade, pode ser
sintetizada em pontos tais como:
a) Defesa do caráter republicano e
democrático do Estado, proteção da ordem política constitucional e das regras
eleitorais de modo a evitar ameaças às instituições e ao caráter competitivo das
eleições; defesa das liberdades individuais e da liberdade de imprensa e
expressão; respeito ao calendário eleitoral; defesa de medidas de Reforma Política
que restrinjam o fisiologismo e a corrupção a garantam a alternância do poder;
b) Reconstrução dos fundamentos do Real
(superávit fiscal, câmbio flutuante, metas de inflação) para reconquistar a
credibilidade e a previsibilidade da política econômica; redefinição do marco
regulatório do petróleo, da energia e das atividades públicas concedidas à iniciativa
privada e garantia de atratividade para investidores; despartidarização das
agências reguladoras e aperfeiçoamento da legislação para reconstituir sua
independência em defesa dos interesses da sociedade perante os prestadores de
serviços concedidos; extinção do BNDES; redução de impostos e simplificação do
sistema tributário descentralizando o sistema de arrecadação e distribuição das
receitas em detrimento da União e em favor e municípios e estados;
c) Reforma do Estado para diminuir seu
tamanho e aumentar sua eficiência; foco das políticas públicas de melhoria dos
serviços de saúde, educação, transporte e segurança; valorização do
funcionalismo de carreira e redução do número de cargos em comissão; redução do
número de ministérios; extinção de empresas e órgãos estatais; Reforma da
Previdência; definição de porta de saída e prazo de validade para programas de
renda mínima; redefinição, restrição e extinção gradual do subsídio estatal para
atividades culturais e outras mantidas por incentivos fiscais; nova delimitação
de políticas de meia-entrada e acesso gratuito a serviços e espetáculos
culturais; substituição da política de cotas para acesso à educação por uma
política de incentivo ao mérito por desempenho nos estudos, privilegiando o
perfil de baixa renda e sem distinção de origem étnica, cobrança de
mensalidades para alunos com condições de renda que ingresso em universidades
públicas.
Mudando-se algum detalhe aqui ou ali, independente de quais
sejam os nomes no tabuleiro, o conteúdo da disputa eleitoral de 2014 pela
Presidência da República é o conflito entre essas duas agendas. Diante disso,
as perguntas são:
Como se posicionam em relação a essas agendas os postulantes
até agora oferecidos pelos partidos à escolha da sociedade?
Quem tem vontade política, coragem e competência para
recuperar a agenda perdida e avançar com novas políticas públicas capazes de
responder às demandas sociais resumidas na consigna por serviços públicos
“padrão FIFA”?
Até o momento, segundo as mais recentes pesquisas de opinião,
a percepção de que o Brasil está no rumo errado e o desejo de que o país mude,
predominam entre os brasileiros. O vento sopra a favor da oposição. Não
obstante, a cultura política dominante na mentalidade da nossa população é
simpática ao paternalismo estatal e refratária a políticas públicas que visem
fortalecer a sociedade e o mercado em detrimento do Estado.
Supondo-se que algum dos adversários do PT esteja disposto a
abraçar a agenda de oposição, terá ele competência para “vender o peixe” aos
brasileiros?
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