quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DILMA E AS CIRCUNSTÂNCIAS DO GOVERNO QUE HERDOU

A presidente Dilma esforça-se para transparecer que o momento é de normalidade e que reina a calmaria na cena política. O anúncio da equipe econômica foi o lance principal desse esforço para impor uma agenda positiva ao noticiário dominado pelo escândalo da Petrobrás e pelos números cada vez piores da economia.

O “mercado”, dizem, reagiu bem aos três nomes. Sempre acho estranha essa propensão ao otimismo e ao desejo de acreditar no governo que essa entidade abstrata que chamam de “mercado” revela pela boca de certos comentaristas. Qualquer analista com conhecimentos parcos da teoria econômica poderia prever, com base nos livros e na experiência, que as aventuras de Dilma e Mantega na condução da economia só poderia dar no que deu.

As estripulias começaram quando Mantega assumiu o ministério da Fazenda esforçando-se para destruir o trabalho de Henrique Meireles no BC, para conter a inflação. Isso, no entanto, não impediu a conceituada revista The Economist, de insuspeitas inclinações liberais, de publicar aquela capa com o Cristo Redentor disparando aos céus como um foguete a representar a suposta consistência dos rumos do Brasil sob comando petista.

Não bastaram a teoria e as experiências pregressas com as concepções econômicas de Dilma e Mantega para The Economist projetar o cenário que hora se apresenta. Foi preciso o fracasso se apresentar como evidência e prova para que The Economist publicasse outra capa com nosso Cristo voando como galinha rumo ao fundo da baía da Guanabara.

E o erro se repete com a anúncio da “nova” equipe econômica. A toada dos comentaristas chapa branca reconhece os tempos difíceis, afinal, não dá para negar o óbvio, mas revela otimismo e confiança de que Dilma teria se rendido e jogado os livros nos quais estudou economia no lixo e mudado de posição para o extremo oposto.

O fiador desse otimismo injustificado é Joaquim Levy. Somente ele. Nelson Barbosa reza pela cartilha de Dilma e Mantega em matéria econômica e somente saiu do governo por discordar da criatividade de Arno Augustin no trato da contabilidade governamental.

O aumento dos juros logo após a eleição foi percebido pelo “mercado” como sinal de independência do BC. É o contrário. O aumento dos juros se fazia necessário muito antes da eleição e só não aconteceu porque Tombini obedeceu as ordens de João Santana. Tombini somente foi guindado à presidência do BC por ser submisso à Dilma.

As tintas com que mandaram pintar a fachada da “nova” política econômica, de fato, respondem à necessidade incontornável de corrigirem-se as trapalhadas de Dilma e Mantega nos dois últimos mandatos presidenciais. Levy é um cavaleiro solitário lutando contra o exército de ministros da Dilma, todos sedentos por gastar, gastar e gastar.

Os otimistas baseiam seu otimismo na comparação entre o governo Dilma II com o governo Lula I. Ocorre que os ajustes ortodoxos patrocinados por Palocci no governo Lula I foram implementados tendo como base uma economia com os fundamentos organizados legados por FHC ao seu ingrato sucessor.

A situação atual é muito diferente. Não há mais dinheiro sobrando no mundo com disposição para correr riscos em apostas em quem pensa e governa como Dilma e o PT. Há quem confunda inflação com o índice que o IBGE divulga de tempos em tempos. O índice é apenas o índice. Inflação é um fenômeno econômico decorrente do descontrole do gasto público e não do aumento ocasional do preço do chuchu, do tomate, da carne ou dos ovos.

Enquanto os fundamentos da economia não forem reorganizados, não bastará ao BC aumentar ainda mais, e sem convicção, os juros, para conter a inflação. A bagunça é tamanha que torna difícil entender-se a pressa com que o “mercado” sorriu para Dilma olhando para Joaquim Levy.

As análises mais sérias que se podem encontrar nas páginas dos jornais projetam um cenário de prolongada estagnação (ou recessão) com inflação cercando o teto da meta nos próximos dois anos, somente caminhando para um crescimento de 2% do PIB em 2018, ano em que Lula decidiu voltar à Presidência da República. Isso, é claro, se Dilma deixar Joaquim Levy fazer tudo o que precisa ser feito para consertar seus estragos.

Faltou combinar com os árabes, que decidiram derrubar os preços do petróleo para um patamar próximo dos U$ 50,00 o barril, por cerca de quatro ou cinco anos, para tornar desinteressante aos americanos o investimento nos novos métodos de produção do ouro negro e do gás de xisto.

Essa decisão levará a Venezuela ao colapso nos próximos dias e forçou Cuba a abrir as pernas para Obama, pois os Castro sabem que da Venezuela e do Brasil não receberão mais almoço “grátis” às nossas custas. Só o capitalismo, de mercado ou de estado, salvará Cuba de um destino venezuelano. E isso tem fortes impactos políticos sobre o projeto bolivariano hegemonista que o Foro de São Paulo projetava para o continente. Dilma terá que se virar sozinha para sair dessa enrascada.

Tudo indica que recém começa-se a perceber o tamanho do estrago que a quebra da Petrobrás causará à economia brasileira. Os custos econômicos dessa aventura patrocinada pelos corsários do lulopetismo ainda não são claros e crescem assustadoramente a cada dia que passa. Lula e Dilma gastaram os créditos futuros do pré-sal. A Petrobrás não tem dinheiro nem crédito para financiar a exploração no mar profundo. Explorar esse petróleo se tornou desinteressante com o barril a U$ 50,00.

Isso que as investigações nas demais obras públicas de todo o país e de vários ministérios, da lista de 750 encontradas na planilha de Alberto Youssef, sequer começaram. Dadas as circunstâncias, não convém, também, menosprezar a declaração do Procurador Federal Hélio Telho Corrêia Filho ao afirmar que o escândalo do BNDES poderá ser sete vezes maior do que o do petrolão e o do mensalão juntos.

Terá Dilma a humildade, a competência e a coragem para desfazer a cagada de Lula quando resolveu mudar o sistema de exploração do petróleo do modelo de concessões criado por FHC, pelo modelo de partilha? Será possível recuperar a Petrobrás sem privatizá-la? E se a privatização for inevitável, Dilma venderia o que sobrou da “nossa” queridinha? E a Eletrobrás? E o BNDES? Duvido!

Bem, até aqui estivemos falando de economia. Mas economia não é ciência dos números; é ciência do comportamento. E, não é possível projetar cenários econômicos sem considerar as variáveis políticas, que também são comportamentais. Não parece que o apressado otimismo com que o “mercado” recebeu Levy tenha precificado essa variável em todas as suas dimensões. Até porque, a ignoraram e também, porque os custos intermináveis dessa roubalheira indiscriminada não param de jorrar das páginas do noticiário. Impossível precificar agora.

Lula foi chamado à PF para esclarecer o mensalão e será chamado de novo para explicar o petrolão. Se a PF está chamando Lula só pode ser porque o nome de Lula já circula nos relatórios das delações premiadas. Assim como os custos econômicos da destruição da Petrobrás não param de crescer, a precificação do strike que esse escândalo fará em todo o sistema político também é impossível agora, diante do desconhecimento sobre o tamanho da frota de corsários que sangra os cofres públicos a serviço do projeto hegemonista do petismo.

Num país sério todos os condenados deveriam pagar penas perpétuas. As empreiteiras deveriam ser declaradas inidôneas e sofrer intervenção do governo na tentativa de sanear o setor e salvar algumas com novos donos. Mas, para isso, Dilma, ou o presidente que vier a sucedê-la depois do impeachment, terá que abrir o mercado às empreiteiras estrangeiras. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?

Num país sério, certamente, ao final das investigações desse escândalo, partidos-máfia inteiros terão que ser extintos e proscritos. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?

Por fim, não convém menosprezar as manifestações de rua que se seguiram ao fim da eleição pedindo o impeachment de Dilma. A imprensa mente e distorce os fatos, tenta minimizar e descaracterizar essas manifestações. Mas, num cenário que combina crise econômica com crise política e institucional, num contexto em que os pagadores de impostos serão chamados a arcar com a conta desse descalabro, a hipótese de que vejamos repetirem-se eventos como os de junho de 2013 não é nada desprezível. Só que agora há líderes à frente das manifestações de 2014. E são todos de direita. E os defensores de um golpe militar são minoritários, para desagrado do PT e da mídia chapa branca.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SALÁRIO MÍNIMO REGIONAL E OPORTUNISMO POLÍTICO

No dia 12/11 ZH estampou capa com o governador que sai propondo aumentar o salário mínimo em 16% e com a suposta concordância do governador que entra. O assalariado desavisado deve ter sorrido de felicidade.
Será isso uma bondade? Que consequências a virtual aprovação dessa medida pelos deputados trará para a economia gaúcha?
Nossa economia encontra-se a caminho da recessão. A inflação está acima do teto da meta e, tudo indica, se manterá assim em 2015. O emprego industrial caiu pelo sexto mês consecutivo. Esse cenário é radiografia do passado.
Governo novo, ideias novas, lembram? No meio empresarial ninguém parece acreditar.
Fechadas as urnas as empresas aceleraram as demissões. O grupo Randon, de Caxias, um dos grandes, acaba de ordenar a redução em 5% em seus quadros. As grandes empresas relutam em demitir devido aos altos custos da dispensa. Empresas desse porte têm fôlego para preservar empregos se vêem o futuro com otimismo. Quando demitem é porque estão pessimistas.
Grandes empresas não pagam salário mínimo. Quem paga salário mínimo são as pequenas e microempresas e os empregadores domésticos. As pequenas e microempresas são as maiores geradoras de empregos.
O que acontecerá com esses empregos se o salário mínimo for elevado em 16%, portanto, 9,5 pontos percentuais acima da inflação? Alguma dúvida?
Todos que acompanharam a recente campanha eleitoral sabem que as finanças públicas do RS foram levadas pelo governador derrotado à mais grave crise de que se tem notícia. Estamos afundados no “cheque especial e no rotativo do cartão de crédito”.
Além disso, o governador que sai deixa como herança aos pagadores de impostos, várias prestações dos aumentos de salários que concedeu ao funcionalismo. Não havendo mais de onde tirar dinheiro, conseguiu com “a gerente do banco”, mais R$ 2 bilhões de “limite do cheque especial” para que possamos nos afundar ainda mais em dívidas impagáveis.
O curioso, para não dizer alarmante é que o já quase ex-governador sorri para as câmeras dizendo que deixou tudo pronto para o governador que entra fazer um excelente mandato. Completa o serviço com a “bondade” fatal para os milhões de futuros desempregados que produzirá nas micro e pequenas empresas gaúchas.
O que pensar de um “concertador” de obra tão magnífica? Quem terá coragem de desarmar essa bomba?

(Publicado originalmente em http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/11/14/artigos-salario-minimo-regional/)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A OPOSIÇÃO EFICAZ

Em junho de 2013 milhões foram às ruas contra a corrupção e por melhores serviços públicos de transporte, educação, saúde e segurança. O que ocorreu em 2013 nada tem a ver com as mobilizações que a esquerda costumava liderar no século XX, sob o comando de sindicatos, associações de bairro, entidades estudantis e a esquerda da Igreja. Emergiu no Brasil, assim como na Espanha em 2004, na Tunísia e no Egito em 2011 e na Turquia, Ucrânia e Venezuela mais recentemente, um fenômeno típico das sociedades-rede.

Correndo por fora das organizações tradicionais, milhões de cidadãos conectados pelas mídias sociais saíram às ruas para se manifestar e, sem planejar isso como objetivo, derrubaram ou desestabilizaram governos. Tudo ocorreu sem lideranças, sem organizações de massas, sem projetos de poder e sem controles.

Na eleição que se encerra, essa mobilização em rede reapareceu com a militância a favor de candidaturas de oposição, movida pelo desejo de mudanças. Milhões de pessoas se expuseram nas ruas e nas mídias sociais, não por que estivessem interessadas em cargos no governo ou em receber bolsas estatais. O objetivo dessas pessoas era a defesa das suas liberdades e da democracia, o fim da corrupção e melhores serviços públicos.

Na eleição, parte da sociedade que foi às ruas pacificamente em junho de 2013, aderiu às candidaturas de oposição no primeiro turno e no segundo turno. Os principais candidatos da oposição souberam encarnar o espírito das ruas e traduziram esse sentimento em sua união no segundo turno. Em algumas cidades vimos passeatas mobilizadas por um povo protagonista, fato inédito em eleições tradicionalmente programadas para o povo ser vaca de presépio em comícios teatralizados para militantes idolatrarem líderes.

Fecharam-se as urnas. O PT, até prova em contrário, venceu. O que aconteceria numa eleição tradicional? Os vencedores se auto elogiariam; os derrotados reconheceriam a vitória; o povo se recolheria à condição de expectador passivo à espera do próximo pleito.

Não é isso que acontece. Os cidadãos que não são controlados por partidos seguem nas ruas. Em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Belém e outras cidades, milhares saíram às ruas dia 01/11/2014 exigindo auditoria da apuração das eleições presidenciais e investigação séria do escândalo do petrolão. No próximo dia 15 estão programadas manifestações em todo o país, com foco na auditoria das urnas e na investigação da corrupção na Petrobrás.

Esse povo se mostra disposto a fazer a oposição que os partidos de oposição nunca fizeram. Essas pessoas estranharam o tom conciliador do Aécio derrotado e aplaudiram a contundência oposicionista que seu ex-candidato a vice, o senador Aloysio Nunes Ferreira, imprimiu à sua primeira fala pós-eleitoral. Aécio recalibrou o discurso e voltou à cena com um vigoroso discurso oposicionista no Senado.

A origem do PSDB não é a rua. O partido nasceu da soma de intelectuais acadêmicos e políticos de centro-esquerda, pretendendo ser uma socialdemocracia de estilo europeu, mas sem as bases sindicais que marcaram o nascimento de seus congêneres do velho continente na segunda metade do século XIX.


O banho de rua que Aécio Neves levou nessa eleição que agora se encerra, foi uma novidade para os tucanos. Se Aécio quer liderar a oposição terá que se deixar liderar por seus liderados nas ruas e nas mídias sociais. Se não o fizer será esquecido; ignorado; atropelado. Não bastará à oposição contestar, apenas na tribuna do parlamento, as medidas autocráticas que o PT pretende implantar para garantir sua perpetuação no poder. Sem povo na rua o Brasil seguirá sua marcha insana rumo à venezuelização.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PESQUISAS ELEITORAIS SÃO SIMULACROS

As pesquisas possuem grande poder de prognosticar tendências da opinião eleitoral. São pesquisas não publicadas que orientam as estratégias que vencem eleições. No entanto, as pesquisas publicadas têm limites raramente compreendidos pelos leigos e mesmo pelos jornalistas que às comentam.

Nessa eleição a diferença entre o que as pesquisas diziam ao final do primeiro turno e o que as urnas revelaram levou os institutos ao descrédito e minimizou o poder do efeito “bandwagon” (onda de adesão ao líder nas pesquisas) no segundo turno. O eleitor brasileiro parece ter desprezado as pesquisas para decidir em quem votar.

Segundo Bourdieu, em artigo dos anos 1970 (“A opinião pública não existe”), opinião é um discurso articulado impossível de ser traduzido em percentuais. Diz ele, que nem todas as opiniões se equivalem e nem todo mundo tem opinião sobre o que perguntam as enquetes que convertem respostas em percentuais. Igualmente, não existe um consenso pré-estabelecido sobre os problemas que deveriam ser objeto das pesquisas. Ou seja, por trás de quem encomenda a pesquisa e decide o que perguntar há o interesse de influenciar quem lê a pesquisa publicada, mesmo quando o rigor metodológico é obedecido na coleta e análise dos dados. A manipulação não estaria no rigor do método, mas nesses pressupostos falsos sobre os quais se constroem as pesquisas publicadas.

Pesquisas publicadas são cortes verticais na massa de opiniões, no curto espaço de tempo em que os pesquisadores vão a campo. Numa eleição as opiniões estão em movimento, sob influência da disputa entre grupos organizados pela conquista dos indefinidos. Hoje, a opinião é tão arisca quanto o click do mouse que nos conduz a outra página na rede.

As opiniões se formam em círculos de convivência e obedecendo a uma lógica que não encontra em índices estatísticos a forma adequada de representação. Os trackings (monitoramento quantitativo diário) e as pesquisas qualitativas (grupos de eleitores que assistem a propaganda e os debates quando estão no ar, observados por analistas) são os instrumentos que os estrategistas usam para ler essas percepções e calibrar a propaganda para captar votos.

Numa eleição “empatada”, se um fato político (denúncia, escândalo, falha em debate) ocorre muito próximo à coleta de dados, provocando mudanças bruscas das opiniões individuais, dificilmente a pesquisa publicada captará essa alteração. Isso não significa que o instituto errou ao divulgar os índices sobre aquelas perguntas, no momento em que perguntadas. Significa apenas que a pesquisa publicada não capta a mudança brusca.

A situação na qual se constitui a opinião na reta final de um segundo turno em que poucos eleitores indefinidos podem se decidir com base em quaisquer fatores é o inferno dos institutos. As pessoas estão diante de opiniões sustentadas por grupos. Ao se posicionarem estão escolhendo entre grupos, num contexto de disputa de poder e correspondendo a um determinado estado da correlação de forças entre posições em guerra. Quem mantêm distância relativa dos polos que se opõem nesse conflito, os famosos “indecisos”, decide em função da pressão dessas forças constituídas.

As estratégias das campanhas consistem da construção de respostas para demandas comuns dos eleitores. Como essas demandas são as mesmas e as pesquisas encomendadas pelos candidatos mostram isso para todos, impõe-se uma equalização das estratégias que passam a jogar ao máximo com a dissimulação das clivagens para ganhar os votos flutuantes.

Nesse contexto as pesquisas publicadas adquirem relevância extrema para a “fabricação” da opinião pública. A publicação dos resultados de pesquisas prejudica uns e favorece outros. Por isso, criam-se jogos retóricos com a finalidade de usar os resultados para influenciar a interpretação que as pessoas fazem das pesquisas publicadas. E dê-lhe compartilhamentos dos resultados e interpretações que “me favorecem”.

Javier Del Rey Morató mapeou alguns desses artifícios que ele chama de “jogos do termômetro social”. Hoje, diz ele, a difusão desses jogos ocorre sem restrições, e, muitas vezes, seus porta-vozes são analistas a serviço de candidatos. Agentes interessados patrocinam pesquisas e disputam a imposição de versões interpretativas dessas pesquisas. Essas pesquisas estruturam a guerra de versões e desenham o cenário em que vão se desenvolver os jogos de linguagem.

Os jogos retóricos pela imposição de versões sobre as pesquisas buscam definir um cenário que se abre com o jogo de prognóstico dos resultados eleitorais futuros, tomando como base a leitura de resultados de pesquisas presentes. A imposição de uma determinada leitura das pesquisas fisga o observador num anzol.

O analista de pesquisas publicadas, dessa forma, insere-se no jogo como uma espécie de vidente. Apoiar-se no prognóstico dele, se ele “nos favorece”, ou desconstituir esse prognóstico usando outras pesquisas ou outras interpretações das mesmas pesquisas, se ele “nos prejudica”, é um imperativo da disputa em torno da construção de um clima de opinião que “nos interessa”. O passo seguinte é enredar o eleitor na crença de que o simulacro é a realidade. Por isso, nessa eleição, vimos institutos aparentemente independentes, “prestando serviços” às duas candidaturas que passaram ao segundo turno.


Nem sempre funciona. Quando os institutos erram algum prognóstico, depois de terem inundado o espaço midiático com estimativas sobre o resultado da eleição, para explicar a distância entre o prognóstico e o comportamento eleitoral, recorrem às margens de erro; às mudanças bruscas das opiniões sob impacto de fatos novos, enfim, todo o tipo de argumento “técnico” é usado para explicar o inexplicável.

domingo, 2 de novembro de 2014

1964 NÃO SE REPETIRÁ

Na eleição que se encerra fatos inusitados passaram ao largo da percepção dos comentaristas e cientistas políticos que interpretam a política para veículos de comunicação. Milhões de pessoas saíram às ruas nas principais cidades do país para apoiar Aécio no segundo turno. Gente sem partido querendo mudança. Há algo em comum entre esse povo que carregou Aécio nos braços no chão da rua em passeatas inéditas em véspera de eleição e o espírito das manifestações de junho de 2013.

Fecharam-se as urnas. Aécio reconheceu a derrota e declarou que o desafio de Dilma é reconciliar-se com a fatia da sociedade que não aguenta mais o PT. A reação dessas pessoas sem partido nas redes sociais foi crítica a Aécio e elogiosa à declaração do senador Aloysio Nunes Ferreira que recusou a conciliação.

Em 01/11/2014 milhares de pessoas voltaram às ruas em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Belém, exigindo auditoria na apuração das eleições e garantia da investigação do escândalo do petrolão. Em meio à multidão uma minoria, também presente nas redes sociais, portava cartazes pedindo a intervenção militar para remover o PT do poder.

Imediatamente a grande mídia, já alinhada com o governo eleito, destaca esses manifestantes da multidão e tenta caracterizar as manifestações libertárias como sendo mobilizações golpistas de minorias isoladas.

O foco aqui é a preocupação com essa minoria que pensa que a Intervenção das Forças Armadas (FFAA) é o atalho para destituir o petismo do poder. Não existe atalho para uma tarefa dessa magnitude.

Quem deseja destituir o PT do poder de forma definitiva e eficaz, deve se convencer do erro que é pedir a “Intervenção Militar Constitucional” mesmo sem que o PT rompa a Ordem Constitucional de forma inequívoca e comprovada. Isso por que:

a)    As FFAA aprenderam com o golpe militar de 1964. O preço da destituição de um presidente eleito pela força desgasta e os resultados que produz são danosos à democracia e à imagem das FFAA. O resultado da remoção da esquerda do poder pela força em 1964 foi sua volta ao poder em 2002, com fortes riscos de sua perpetuação;

b)    Ao contrário do que ocorreu na Venezuela, onde Chávez, um militar, cooptou seus pares para seu projeto de poder, no Brasil a esquerda não penetrou nas FFAA, muitos menos nas escolas de formação dos militares profissionais. E isso faz muita diferença.

Não sou porta-voz das FFAA. O que digo não é opinião. É informação e análise lógica.

Isto posto, convém que esses golpistas de araque saibam que as FFAA nada farão que fira a Ordem Constitucional. Ou seja, se não for comprovado que o PT fraudou a eleição de 2014, as FFAA não darão um golpe contra a presidente eleita. Se não for comprovado que o PT financiou suas campanhas de 2010 e 2014 com dinheiro proveniente de contas no exterior abastecidas por dinheiro roubado dos brasileiros, as FFAA nada farão contra o governo do PT.

Ou seja, o foco de quem quer derrotar o PT é provar que houve fraude na eleição. Difícil. E/ou, que o PT é financiando ilegalmente com dinheiro roubado dos cofres públicos, depositado no exterior e repatriado para financiar a eleição de Dilma. Mais fácil. Alguma dúvida?

Se o PT tentar impedir a investigação do petrolão, ou tentar impedir sua divulgação, valendo-se pra isso de procedimentos ilegítimos, ascender-se-á o sinal amarelo nas FFAA. A ruptura da Ordem Constitucional por parte do PT é o que determina a atitude das FFAA. Esse recado já foi dado a Lula.

Não é por outra razão que o PT quer desmilitarizar as polícias estaduais e centralizar o policiamento ostensivo militarizado nas mãos do governo federal. Não é por outra razão que o PT defende o desarmamento dos cidadãos idôneos que desejam possuir ou portar armas para defesa pessoal. O PT não quer adversários armados.

O PT já dispõe de milícias “desarmadas” tais como o MST e os Black Blocs. Armar essa gente é fácil e rápido. O PT sabe que a os segmentos da sociedade que se opõem ao seu poder são desorganizados, desarmados e que têm entre seus integrantes gente burra o suficiente para propor a reedição do golpe de 1964. Em breve veremos os Black Blocs e as milícias do MST nas ruas agredindo os opositores do petismo. Foi assim em todos os regimes fascistas e comunistas.

Tudo o que o PT precisa é que essa minoria burra siga culpando os nordestinos pela vitória da Dilma. A vitória de Dilma se definiu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, inclusive com votos de parte da "elite branca" do sul. Tudo o que o PT precisa é que aqueles que a ele se opõem defendam o separatismo e o ódio aos nordestinos e um golpe militar.

O que justifica que um opositor do PT que vive no sul se oponha aos antipetistas nordestinos que lá combatem o PT em situação de estado de sítio? Por que abandoná-los ao jugo petista?

As FFAA jamais moverão uma palha em favor de quem joga brasileiros contra brasileiros, nordestinos contra sulistas, pobres contra ricos, negros contra brancos, mulheres contra homens, homossexuais contra heterossexuais, muçulmanos contra cristãos, evangélicos contra católicos. A razão de ser das FFAA é defender a unidade nacional.

Tudo o que o PT deseja é que, aqueles que a ele se opõem defendam a intervenção militar e a ruptura do processo democrático. Assim fica fácil, e rápido, isolar-nos e conquistar a opinião pública. Difícil para o PT, seria enfrentar o povo nas ruas tal como ocorre na Venezuela, sem ter milícias armadas atirando em manifestantes e correndo o risco de ver as FFAA irem para a rua defender o povo e a democracia contra um partido-máfia que busca se perpetuar no poder pela força. O modelo de oposição que o PT precisa e merece é o que o povo venezuelano pratica contra Maduro: ativismo intenso nas mídias sociais e multidões pacíficas nas ruas até o regime cair de podre.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

DILMA E AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VITÓRIA

“Digo, portanto, que as armas com que um príncipe defende seu estado ou são próprias, ou mercenárias ou auxiliares ou mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas. Quem tem o seu estado baseado em armas mercenárias jamais estará seguro e tranquilo, porque elas são desunidas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, valentes entre amigos e covardes entre inimigos, sem temor a Deus nem probidade para com os homens. O príncipe apenas terá adiada a sua derrota pelo tempo que for adiado o ataque, sendo espoliado por eles na paz e pelos inimigos na guerra.”
Nicolau Maquiavel – O Príncipe, Florença, 1513.

Fecharam-se as urnas. O PT venceu. Na democracia, cabe aos derrotados reconhecer a derrota, ainda que duvidando que, se o resultado fosse inverso, a atitude do outro lado seria a mesma.

Aécio o fez. Saiu das urnas maior do que entrou. Superou os limites do marketing que se rende às médias das pesquisas. Rompeu os limites da mediocridade da política tradicional. Entendeu e conectou-se com a alma da Nação que carregou-o nos braços no chão da rua, fora dos palanques tradicionais em mais de uma ocasião. Traduziu essa compreensão no discurso da libertação do Brasil e tocou o coração das forças vivas da Nação. Teve a grandeza de sugerir à presidenta reeleita o gesto da conciliação, não obstante ter sido vítima das mais baixas vilezas de que se tem conhecimento em eleições presidenciais no Brasil. Talvez pudesse ser mais contundente na afirmação de linha de oposição que liderará, mas terá oportunidade de fazê-lo com atitudes.

Marina Silva, premonitória, disse, após ser expulsa do segundo turno pelos ataques vis do PT e declarar apoio à mudança: “- Eu prefiro perder ganhando a ganhar perdendo”.

Quem ganhou e quem perdeu?

O desafio da análise política é entender o significado do resultado de uma eleição, sabendo que o leitor busca o porto seguro da antecipação do futuro.

Não há porto seguro; não há zona de conforto. A política é o reino da mutação. A vitória de hoje pode ser a derrota de amanhã. E vice e versa.

Entendamos, então, o que Dilma ganhou.

Em primeiro lugar, Dilma herda de si mesma uma Nação em frangalhos.

Inflação acima do teto da meta; recessão; crise fiscal, crise nas contas externas, alto endividamento público, represamento artificial de preços controlados, perda de credibilidade perante o mercado e investidores, máquina pública inchada e cara, queda de arrecadação de impostos, estatais quebradas, isolamento perante as forças vivas da Nação e um clima político intoxicado pelos ataques abaixo da linha da cintura praticados pelos petistas, por Dilma e por Lula.

Os mais magoados são os eleitores de Marina e Aécio, que saem das urnas desconfiando de fraude, falando em impeachment, dispostos a seguir na ruas e esperando dos tucanos uma oposição firme, à altura do tom que Aécio imprimiu aos debates.

Em segundo lugar, Dilma derrotou(?) nas urnas a metade do país que é mais importante pela qualidade do que pela quantidade. Quem gerou a votação de Aécio não foi nenhuma sigla formal; foi o maior partido do Brasil hoje, o antipetismo. Um partido informal que não existiria não fosse a existência do petismo. Por que será? Gente sem envolvimento com política se expôs nas ruas e nas redes sociais aos milhões. A ânsia por liberdade segue viva, mobilizada e mais indignada que durante a campanha.

Quem carregou Aécio nos ombros em Copacabana, saiu em passeata no Largo da Batata e na Faria Lima, no centro e no Parque Moinhos de Vento em Porto Alegre, no centro de Recife e em outras metrópoles do Brasil; quem gritou 1,2,3 Lula no xadrez na em frente ao MASP dia 25/10 e foi às ruas em passeatas em véspera de eleição (alguém já havia visto isso antes?), não foi a militância do PSDB apenas. Foi o mesmo povo pacífico e aguerrido que foi às ruas em junho de 2013 antes que os black bloc os expulsasse.

Difícil de entender?

O neto de Tancredo Neves entendeu o espírito das ruas e aceitou de peito aberto, mesmo sendo chamado subrepticiamente de bêbado e drogado por Dilma num debate, mesmo sendo caluniado por Lula como filhinho de papai que bate em mulher (no que foi desmentido), manteve a altivez e respondeu com a crítica política contundente, honesta e verdadeira.

Apesar disso tudo, o pai de família, cuja esposa Letícia reconhece nele um homem de caráter, assumiu a posição de libertador do Brasil, acima de partidos. Letícia buscou um marido cujo principal atributo é o caráter e, com ele teve gêmeos. E a Gabriela, filha de seu primeiro casamento, esteve ao seu lado nos momentos centrais da eleição.

Aécio sai da eleição sendo percebido como um estadista. De Lula e Dilma não se pode dizer o mesmo.

Terá sido gratuita a identificação de quase 50% dos eleitores com alguém com esse perfil?

O que esse povo todo que empunhou a bandeira da mudança e votou em Aécio e Marina pensa do Brasil governado há 12 anos pelo PT? O que desejamos para o futuro?

Um país no qual o(a) presidente(a) sabe o que se passa de baixo de suas barbas ou de suas saias e não finja que não sabe.

Um país cujo(a) presidente(a) não seja cúmplice da corrupção e não use o dinheiro público para comprar apoio político com vistas à perpetuação de seu partido no poder.

Um país no qual os detentores do poder não ameacem as liberdades individuais, das quais a mais cara é a liberdade de opinião contra o governo.

Um país no qual o governo não seja cúmplice de gente que viola a propriedade privada e ameaça a inviolabilidade do lar de quem constituiu família e tem direito ao teto pelo qual paga com o suor de seu trabalho e com a garantia dos seus impostos.

Um país no qual todos os partidos respeitem as leis, a ordem e a democracia.

Um país com Legislativo e Judiciário independentes.

Serviços públicos à altura dos impostos pagos por todos.

Políticos que não assaltem os cofres públicos e que gastem corretamente os impostos que pagamos.

Isso é pedir demais? Depois de tudo o que veio à tona será possível esperar isso do PT?

Os cidadãos brasileiros trabalham 8, 10, 12, 14, 16 horas por dia, 365 dias por ano para pagar impostos, sustentar famílias, gerar empregos e bancar seus sonhos e a ganância esperta daqueles que ocupam cargos públicos ou gravitam em torno do Estado para sugar-nos a riqueza que a sociedade produz.

São os impostos pagos por quem trabalha e empreende que pagam o Bolsa Família de milhões. Pagam os subsídios dos juros de milhões que estão adquirindo as suas casas e as suas dívidas no programa Minha Casa Minha Vida. Pagam, também, as bolsas do ProUni nas universidades privadas de outros milhões de irmãos. Pagam, pagam, pagamos...

Essas contas é justo pagar, desde que os beneficiários dessas políticas públicas saibam quem as paga. E são pagas; não são dadas, ao contrário do que sugere a propaganda de Dilma.

Quem paga essas contas todas, gostaria que o PT parasse de usar o dinheiro dos impostos de todos para financiar aventuras empresariais como as de Eike Batista, da Friboi e de outros grupos econômicos cuja pujança se deve apenas às amizades com o rei, a rainha, ou às supostas sociedades obscuras com príncipes e princesas, e cuja viabilidade econômica e retorno social se tornam, a cada dia, mais duvidosos.

Dilma, se conseguir, governará pelos próximos quatro anos.

Quase 50% dos brasileiros de todas as classes, regiões, cores, clubes de futebol, religiões, etnias, opções sexuais e ideologias, e que são tão brasileiros como os outros 50% que votaram em Dilma, gostariam de saber se o governo do PT pretende levar adiante as seguintes “políticas públicas”:

1 – Perseguição e tentativa de cerceamento à liberdade de expressão de veículos de imprensa que criticam seu governo;

2 – Interferência no Legislativo e Judiciário com vistas a eliminar a independência desses poderes e impor a vontade do partido à sociedade e às instituições;

3 – Recorrer a plebiscitos como forma de usar a opinião pública para cercear as liberdades democráticas e impor uma Reforma Polícia de viés autocrático visando a perpetuação do partido no poder;

4 - Continuidade da composição de base de sustentação parlamentar com métodos tais como os revelados pelo escândalo do mensalão e do petrolão;

5 – Impedir a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça de investigar se as denúncias da delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef têm fundamento.

Que força tem o PT para avançar nessa direção? Quais são as circunstâncias dessa vitória?

Dilma, Lula e o PT, gastaram toda a munição que tinham, e mais a que não tinham, para vencer essa eleição. Lula excedeu-se tanto nos discursos e nas acusações vis que cometeu contra as candidaturas de Marina e Aécio, que conseguiu sair desse pleito menor do que era antes. Isto é, de ex-presidente voltou a ser um sindicalista de porta de fábrica.

Paira sob a cabeça do PT, a serem verdadeiros os depoimentos do doleiro Alberto Youssef de que há contas secretas desse partido no exterior, se respeitado o devido processo investigatório e judicial, e produzidas as provas, o risco de ser proscrito.

Paira sob a cabeça do PT o sério risco de que mais um de seus tesoureiros e outros de seus dirigentes venha a parar atrás das grades.

Paira sob a cabeça do ex-presidente Lula e da presidente Dilma o risco de que tenha seus sigilos bancários, fiscal e telefônico quebrados numa investigação em que foram necessariamente incluídos pelos operadores de um escândalo de corrupção capaz de manchar com a ilegitimidade as últimas eleições presidenciais que o PT venceu.

Em se comprovando essas denúncias, a proscrição do PT e um processo de impeachment contra a presidente recém-reeleita, não poderão ser tachados de golpe como já se pode antecipar que o PT dirá.

Avizinha-se uma crise política e institucional, de contornos graves, decorrente dos desdobramentos do escândalo da Petrobrás, num contexto em que o PT e o PMDB saem das urnas menores do que entraram, no qual se ampliou a fragmentação partidária e encareceu-se o preço dos apoios parlamentares. Igualmente, estando todas as grandes empreiteiras do país envolvidas no escândalo da Petrobrás, com seus executivos fechando acordos de delação premiada e revelando esquemas idênticos em todas as estatais, imagina-se que os dutos pelos quais escoa o dinheiro que amamenta a base alugada, vão secar até que novos esquemas sejam montados.

Pela classificação de Maquiavel, acima citado, Dilma comanda exércitos mistos. O Príncipe não é um clássico por acaso. Ao compreendê-lo pode-se antever o cenário à frente.

Avizinha-se uma crise econômica com o país mergulhando na recessão com inflação, gerida por uma presidente-economista que recém se elegeu afirmando que a solução não passa por mudanças profundas e sim, apenas, por pequenos ajustes. Se não fizer o que deve: crise econômica. Se fizer o que deve: crise de imagem decorrente da ruptura com o discurso eleitoral.

A percepção da sociedade é a de que nenhum partido a representa. A grande lição desse pleito reside na percepção de muitos de que, para remover um partido como o PT do poder dentro das regras da democracia, será preciso seguir em frente, nas ruas, pelo tempo que for necessário, para convencer mais brasileiros de que a permanência do petismo no poder é uma ameaça nefasta às liberdades, à democracia e à saúde da economia.

Não existe uma “Bolsa Liberdade” e nem uma “Bolsa Democracia” que o governo concede aos que nelas acreditam e delas necessitam como do ar que respiramos. Liberdade e democracia se conquistam e se garantem nas lutas políticas que constroem as nações. Nas ruas, também, e não apenas na tribuna do parlamento, nas páginas dos jornais e nas mídias digitais.

Sair das urnas pedindo conciliação ao mesmo tempo em que ressuscita a proposta bolivariana e golpista de reformar a Constituição pela via plebiscitária, como faz a presidente recém-reeleita, ou falando em avançar sobre a liberdade de imprensa como fez o presidente do PT, não é propor paz, é declarar guerra.


As atitudes do partido no poder é que definirão a forma como os cidadãos brasileiros, libertários, democratas, pacifistas e pagadores de impostos, reagirão ao governo. Para quem precisará prestar contas à investigação em curso sobre o assalto à Petrobrás, esse é um péssimo começo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

QUEM ABRAÇA ESSA CAUSA?

O custo do Estado brasileiro é compatível com os serviços que presta? O que O Estado faz com ineficiência e custos desnecessários e deveria deixar de fazer? O que o Estado deveria fazer com eficiência e não faz?
Ao responder essas perguntas o pagador de impostos dificilmente negará a necessidade de se reformar o Estado no Brasil. Mas, ao olharmos para os candidatos nessa eleição constataremos que eles não têm as mesmas respostas àquelas perguntas.
Embora as perguntas, formuladas como estão, sugiram respostas óbvias, tudo indica que não há consenso sobre a necessidade de reformar o Estado. Isso acontece devido às consequências resultantes da forma como a Reforma do Estado foi conduzida no passado, dado que a imagem dos que abraçaram essa causa foi corroída pela guerra entre governantes reformistas e a oposição estatista.
A retrospectiva revela diferentes posturas diante da Reforma do Estado. Collor compreendia a necessidade das reformas, iniciou-as, mas isolou-se e subestimou a força dos interesses contrariados.
A retrospectiva revela diferentes posturas diante da Reforma do Estado
Ciente disso, FHC tentou contornar as resistências. Diante do muro que se ergueu no seu caminho ao tentar a Reforma da Previdência, puxou as reformas do capítulo da ordem econômica para o topo da pauta e, entre março e julho de 1995 aprovou todas as emendas constitucionais que encaminhou ao Congresso com maioria absoluta, amparado que estava na vitória em primeiro turno e numa ampla aliança partidária.
Quando chegou a hora de reformar o Estado, FHC pautou a emenda da reeleição, sob o pretexto de que necessitaria de mais um mandato para concluir a empreitada. A tramitação da emenda da reeleição se arrastou até dezembro de 1997. Tendo que conduzir a economia em turbulência internacional; cavalgando um Estado paquidérmico e desgastado pela batalha da reeleição, FHC reelegeu-se, mas, ao desvalorizar o real em 1999, perdeu apoio social e pavimentou o caminho para a eleição de Lula.
Eleito sob desconfiança, Lula executa um movimento à direita, aprofundando as diretrizes da política econômica de FHC e aprovando no Congresso uma reforma parcial da previdência. Legitimado pelos benefícios desse ajuste de 2005 e cooptando amizades no meio político e empresarial, Lula abandonou a impopular agenda das reformas e implantou, gradualmente, sua “nova matriz econômica”. A essência desta “nova matriz” foi o abandono da bem sucedida combinação entre a política de juros, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal para controle da inflação. Beneficiado pelo bom momento da economia mundial e pela herança bendita da política econômica que abandonou, Lula reelege-se e elege Dilma.
O resultado das escolhas de Lula é a estagflação. Dela só saímos com a retomada da política econômica abandonada e com readequação do tamanho, do custo e da eficiência do Estado às necessidades da sociedade e aos desafios da economia globalizada.
(Artigo originalmente publicado no site do Instituto Millenium - 04/09/2014.)

sábado, 30 de agosto de 2014

PT E PSDB: PERDAS E DANOS

O PT roubou do PSDB as bandeiras sociais. Marina está roubando do PSDB a política econômica que dá certo e vai voltar a ser aplicada. 

Os tucanos podem perder mais do que essa eleição presidencial. Podem perder a razão de ser e existir na política brasileira. 

Aécio precisa cuidar do seu quintal, pois se perder para o PT em casa esse será um vexame seu, mais do que do PSDB.

A ascensão de Marina e a queda de Aécio tiraram o foco do PT. Mas, se perder para Marina o partido de Lula também será golpeado quase tão duramente quanto o PSDB. Talvez o PT só consiga eleger o governador do Acre e vai ver suas bancadas parlamentares encolherem.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

POR QUE SERÁ?

Na quarta-feira 13/08/2014, quando me dirigia a um restaurante para almoçar com amigos recebi ligação de uma colega da universidade informando-me sobre a morte de Eduardo Campos. Ao informar os dois colegas que me acompanhavam, a primeira reação foi de incredulidade.

Chegando ao restaurante a TV ligada no plantão jornalístico confirmava a notícia. Imediatamente um dos meus interlocutores disparou: foi o PT. Olhei espantado para ele e, antes que eu pudesse processar o raciocínio, ele emendou: essa eleição se encaminhava para um segundo turno de Aécio contra Dilma com provável vitória de Aécio. A quem interessaria desestabilizar o tabuleiro?

O almoço prosseguiu com nossos olhos voltados para a TV. Ante o desencontro de informações no momento imediato após a queda do avião, entre uma garfada e outra, mais especulações.

De volta ao trabalho, inevitável conectar os sites de notícias e o Facebook. Qual não foi minha surpresa ao constatar que meu interlocutor do almoço não estava sozinho. Inúmeros posts com a mesma especulação sobre suposto atentado povoavam as mídias sociais.

Não demorou muito emergiu na tela do computador um post de uma notícia revelando que em maio passado a presidente Dilma havia sancionado uma Lei que tornava sigilosa a investigação de acidentes aeronáuticos. Adivinhem o teor das dezenas de comentários abaixo do post?

O tempo foi passando e a falta de informações claras sobre a causa do acidente somente alimentou a imaginação dos especuladores. Na sequência emergiram as informações sobre voos de drones na área do campo de pouso do candidato do PSB. Nova onda de especulações. Paralelamente os jornais noticiavam que em Recife o povo falava abertamente pelas ruas sobre atentado à vida de Eduardo Campos.

Não tardou a divulgação da informação de que a caixa preta do avião estaria desligada e não conteria as gravações relativas ao voo de Eduardo Campos. Dessa vez, mais do que as pessoas nas mídias sociais, o deputado Beto Albuquerque (PSB/RS), agora vice de Marina, liga para autoridades aeronáuticas e divulga na imprensa suas desconfianças e exigências de esclarecimento. Ante o questionamento, o próprio ministro da Aeronáutica se vê forçado a vir a público para dirimir as suspeitas.

A exigência de investigação isenta e de respostas convincentes varre os blogs independentes, sempre seguidas de centenas de curtidas e comentários corroborando a percepção de atentado.

Esse tipo de especulação parece inevitável em casos similares. As mortes de Kennedy, Juscelino e Jango até hoje são cercadas de mistério e especulações. No caso de Kennedy, realmente um atentado, as especulações versam sobre supostos mandantes ocultos e que seriam os “verdadeiros assassinos”.

“Teorias conspiratórias”. Assim classificam os analistas políticos esse tipo de especulação que cerca a morte de autoridades em circunstâncias controvertidas.

Ao observador atento não terá escapado a circulação pela internet de outras especulações que poderiam se enquadrar na classificação das “teorias conspiratórias”. Trata-se das vulnerabilidades a fraudes das urnas eletrônicas brasileiras. Não são poucos os difusores dessas especulações sobre o risco de fraude do resultado das urnas na eleição presidencial de 2014.

Inquirido sobre isso numa reunião com amigos, aleguei aos interlocutores que para fraudar-se uma eleição presidencial seria preciso hackear o sistema de totalização do TSE, visto que violar milhares de urnas uma a uma dificilmente viabilizaria uma fraude em larga escala num país das dimensões do Brasil, sem dar na vista. Imediatamente meus interlocutores introduziram outro argumento: “pois é, mas quem é o presidente do TSE?” Mais do que apenas o presidente do TSE, o suspeito oculto por trás dessa interrogação é outro.

Para dirimir quaisquer dúvidas sobre meu ponto de vista, vou aceitar a tese de que a morte de Eduardo Campos decorreu mesmo de um acidente e não de um atentado, e de que, mesmo com a vulnerabilidade já demonstrada das urnas eletrônicas brasileiras e a possibilidade de fraudes em âmbito local, nenhum agente político teria a ousadia de invadir os computadores da Justiça Eleitoral brasileira, com a cumplicidade do presidente do TSE, para fraudar as eleições em curso.

A questão aqui não é essa. A questão é que, por trás dessas especulações encontramos sempre o mesmo invariável suspeito: o PT.

Por que será?

Paulo G. M. de Moura
Cientista Político

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Imagina depois da Copa!

No marketing político, as pesquisas qualitativas são importantes ferramentas para auxiliar os estrategistas no posicionamento, na administração da imagem pública e na calibragem do discurso das candidaturas. Informações veiculadas pela Folha de S.Paulo recentemente dão conta de que a presidente-candidata Dilma Rousseff teria mudado seu discurso sobre a Copa de 2014 após ver pesquisas de avaliação do impacto das jornadas de junho de 2013 na opinião pública. Segundo essas sondagens, a população vê com ceticismo o legado da Copa e como "maquiagem" as obras para garantir o sucesso do mundial.
Em razão disso, a presidente-candidata passou a minimizar a retórica do legado da Copa associado às obras de infraestrutura, passando a focar seu discurso no orgulho ufanista dos brasileiros, eufóricos em ver o "país do futebol" sediar o principal evento global contemporâneo. O bordão desse novo discurso de Dilma seria "a Copa das Copas", sugerido pelo consagrado publicitário Nizan Guanaes, que foi o estrategista das campanhas vitoriosas de FHC em 1994 e 1998.
Por trás da percepção de "maquiagem" relacionada às obras da Copa residiria o sentimento da sociedade de que, passado o evento, tudo voltará a ser como antes e de que subjacente ao propalado legado da Copa estaria o velho "jeitinho brasileiro", agora percebido como algo negativo. Apesar do ufanismo de parte da população, a Copa de 2014 estaria sendo contaminada pelo temor da falta de segurança pública e pela herança de um amontoado de obras inacabadas.
Por fim, a associação do governo com a Fifa seria foco "das mais cáusticas críticas", razão pela qual o governo passou a se apresentar à opinião pública como fiscal das obras, e não como construtor dos estádios - elogiados pela qualidade, mas criticados pelo contraste com os péssimos serviços públicos de transporte, saúde, educação e segurança.
Neste momento em que as pesquisas quantitativas publicadas projetam o favoritismo da presidente-candidata, as conclusões dessa sondagem qualitativa do governo suscitam reflexões.
Em primeiro lugar, chama a atenção a percepção revelada pela pesquisa de que o "jeitinho brasileiro", que antes era visto como atributo de criatividade, agora é associado à conotação de "esperteza" e "maquiagem". Em segundo lugar, impressiona a consciência dessa parcela da sociedade, que já percebeu que os verdadeiros legados da Copa serão os estádios vazios e mal acabados, obras urbanas inacabadas, corrupção e desperdício de dinheiro público. Foi essa camada da população que forçou a presidente-candidata a reposicionar seu discurso para o foco no bordão "a Copa das Copas".
E o que sugere o slogan "a Copa das Copas"? No mínimo, que "nunca antes na história" deste planeta haveria uma Copa tão grandiosa como a Copa de 2014. Certo, Monsieur Jérôme Valcke? Mas o que seria a melhor Copa do Mundo de todos os tempos? Aquela em que o Brasil terá um desempenho arrasador, infinitamente superior ao dos adversários, vencendo todas as partidas de goleada e sagrando-se hexacampeão? É isso, Nizan Guanaes? Será, João Santana?
Se não, então "a Copa das Copas" seria aquela em que o Brasil daria um show de cobertura de TV, superando espetacularmente a qualidade midiática das Copas anteriores? Nossa televisão, notadamente na cobertura do futebol, já é uma das melhores do mundo. Estamos bem nesse quesito, mas certamente não será por isso que a Copa de 2014 seria "a Copa das Copas". Certo, Galvão Bueno?
O que seria "a Copa das Copas" para o povo brasileiro? Levando em conta as expectativas forjadas e alimentadas pelo ex-presidente Lula quando se envolveu de forma direta - e inédita para um presidente da República - com a atração da Copa de 2014 para o Brasil, intui-se que a sociedade brasileira foi levada a crer que, após o crescimento de 7,5% do PIB em 2010 e a eleição da presidente Dilma, o ano que se inicia seria o da entrada triunfal do Brasil no G8+1. Com direito a trem-bala, assento no Conselho de Segurança da ONU e, é claro, a reeleição de Dilma para um quarto mandato consecutivo do PT na Presidência da República.
Teríamos, assim, pelas mãos de Lula, chegado àquele momento mágico da história da Nação em que o gigante se levantaria do berço esplêndido para transformar em presente o bordão do regime militar, que nos anos 70 nos vendeu o sonho do "país do futuro". E legou-nos a hiperinflação e dívidas astronômicas.
No entanto, aprende-se nas disciplinas de qualquer curso de introdução ao marketing que o produto cujo conteúdo não corresponde aos atributos anunciados na embalagem e enaltecidos pela publicidade não sobrevive no mercado.
O que dizer deste "produto", o Brasil com que Lula embalou os sonhos da maioria que elegeu Dilma? O ex-presidente Lula está entregando ao povo o Brasil que "vendeu"? O Brasil que Lula nos lega "nunca antes" foi este país que temos hoje?
Serviços públicos "padrão Fifa"? Esquece! Mas e os estádios? Sim, pelo menos as arenas "padrão Fifa" Lula precisaria nos entregar para termos uma Copa equivalente à da África do Sul. Mas nem isso, presidente Lula? O que dizer da infraestrutura urbana? Maquiagem e improviso na finalização dos estádios; obras inacabadas; jeitinho aqui, jeitinho ali; desperdício; corrupção; dívidas bilionárias.
Assim, a Copa de 2014, com ou sem vitória do Brasil, se esgota como produto de consumo, no mês de julho, substituída que será pela pauta da eleição presidencial. As pesquisas qualitativas já apontavam, em 2013, o "mercado" dividido na percepção do legado deste evento. Já ali existia a sensação da população de que, passada a Copa, "tudo voltará a ser como antes". Que sentimento prevalecerá quando a avalanche de euforia midiática da "Copa das Copas" se converter em horário eleitoral gratuito, em pleno "mês do cachorro louco"?
Publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,imagina-depois-da-copa,1162801,0.htm)