terça-feira, 3 de maio de 2016

TEMER E SUAS CIRCUNSTÂNCIAS: OU, A LUA DE MEL DE MOTEL

Na política, a expressão “lua de mel” caracteriza o período imediatamente após a eleição de um governante, momento em que as expectativas do eleitorado, mesmo da fatia que não votou no eleito, focam-se no desejo de que o governo dê certo, pois isso viria em benefício de todos. Assim, o eleito ganha um “crédito” para tomar as medidas sem ser cobrado por resultados imediatos, permanecendo um tempo em “estado de observação”.
A duração desse clima varia conforme a capacidade de o governante acertar, produzindo resultados positivos que correspondam à expectativa gerada. Se errar encurta ou interrompe a lua de mel e começa a sofrer adversidades políticas. No caso de Temer, fatais. Daí o título: Lua de Mel de Motel.
As circunstâncias que limitam de forma extrema a latitude e o tempo de Temer para agir sem espaço para errar são de natureza política e econômica.
Do ponto de vista político é inescapável constatar que o PMDB é sócio do desastre produzido pelo PT. Além disso, Temer, vice de Dilma, tem o nome citado em delações da lava jato e herda significativas desconfianças. Inevitável desconhecer, também, o processo que tramita no TSE contra a chapa Dilma/Temer, que, se prosperar, terá o poder de abreviar seu já breve mandato. Pobre Brasil.
Convém ter em conta que boa parte das medidas necessárias para correção estrutural da economia têm potencial de municiar a oposição de esquerda recém desalojado do governo, com um discurso e com um poder de mobilização que, se não forem neutralizados, liquidam Temer na largada.
Do ponto de vista econômico as dificuldades não são menores. Segundo o especialista em contas públicas, Mansueto Almeida no Painel Globonews desse fim de semana, nosso rombo fiscal é de R$ 120 bilhões sem considerar-se os juros da dívida, e de R$ 640 bilhões se incluído esse custo. Para ele, será necessário reduzir o custo da dívida em cerca de R$ 250 bilhões em cerca de dois anos e meio para voltarmos a ter sustentabilidade.
Nessa conta, não estão incluídos os aportes de capital do Tesouro nas estatais. No caso da Petrobrás o aporte poderá girar acima de R$ 70 bilhões, sem considerar o impacto das condenações da petrolífera na Justiça dos EUA, estimados em US$ 98 bilhões a serem desembolsados em cerca de dois anos. Há rombos ainda não estimados na Eletrobrás, na CEF, no BB e no BNDES, que somente serão conhecidos após auditoria que Temer vem anunciando.
Mansueto Almeida sustenta que não vê como inverter esses números apenas cortando gastos e sem aumentar a carga tributária. Eduardo Gianetti alegou que não temos fôlego para mais impostos. Zeina Latif contestou Mansueto. Ela acha que se Temer conseguir criar expectativas positivas invertendo a direção do vento na largada, cria-se um cenário de curto prazo capaz de ampliar a latitude de jogo e dilatar o espaço de tempo que Temer teria para sua lua de mel com o eleitorado. Concordo. Essa equação é política, portanto. Sem sintonia fina com a opinião pública e o mercado nada dará certo. A condução que Temer está dando ao processo revela que ele tem consciência disso e condições de acertar.
A primeira decisão a tomar é com relação à equação do ajuste, com ou sem aumento de impostos. Mansueto alega que mesmo com aumento, se conseguirmos reequilibrar as contas, chegaremos em 2018 no patamar em que estávamos em 2011. Bem, a pergunta que não lhe foi feita é: dada a asfixia fiscal atual dos pagadores de impostos e conhecido o impacto da chamada curva de Laffer, extorquir ainda mais os produtores de riqueza aumentará a arrecadação? Intuo que o resultado será o inverso.
Não sou economista, mas, acrescento que um eventual aumento de impostos também tirará de Temer apoios imprescindíveis (da classe média que foi às ruas e da FIESP, por exemplo), já na largada. Se eu fosse conselheiro do rei, diria: não faça! Sua credibilidade e seu apoio popular atuais não comportariam essa perda imediata, cujos ganhos de médio prazo são, no mínimo, duvidosos.
Onde há oxigênio? Na atração de capitais externos. Exceto pelo petismo, que não conta, parece haver consenso sobre essa alternativa: privatizar e flexibilizar os marcos regulatórios tornando as concessões de portos, aeroportos, estradas, ferrovias, energia, exploração de petróleo e tudo o que puder atrair investidores de forma agressiva. Em sentido oposto às concessões tardias e fracassadas de Dilma, é preciso acenar com rentabilidade e segurança jurídica aos investidores, mesmo que o Brasil esteja barato.
O caso do petróleo é emblemático dado o prazo de validade dessa matriz na economia mundial e a queda do preço que tornou os investimentos menos interessantes. Além de desfazer o que o PT fez no pré-sal, talvez seja necessário flexibilizar mais, até mesmo o marco regulatório tucano para as demais áreas de exploração, tornando o investimento atraente ao pondo de interessar potenciais investidores que já perdemos para outros competidores (México, por exemplo).
O agronegócio, maltratado pelo petismo, é outro setor que demanda um carinho especial e que, pela competitividade combinada ao real desvalorizado, se incentivado com medidas corretas, pode atrair divisas com rapidez.
Medidas como essas, mesmo que anunciadas e implementadas em curtíssimo prazo, requerem algum tempo para produzir efeitos, ainda que na frente externa já estejamos colhendo os frutos da desvalorização do real. Mais uma vez, o que se espera desse tipo de medida não é o resultado econômico imediato, mas sim a reversão de expectativas visando reconstituir o otimismo.
Conviria a Temer fazer acompanhar essas medidas de máxima publicidade às descobertas que virão à tona sobre o descalabro da gestão pública sob desmando petista. O objetivo aqui seria mais o rebaixamento de expectativas visando ampliar o crédito para aceitação de medidas incontornáveis como corte de gastos. A virtual sensação de alívio posterior, ainda que psicológica, seria mais facilmente sentida pela população quando o resultado positivo começar a acontecer, tanto mais quanto mais grave for percebida, agora, a herança maldita do PT.
Supondo-se o sucesso inicial na direção aqui apontada e tirado o paciente da UTI para a sala de recuperação, haveria condições para avançar medidas estruturais incontornáveis como a Reforma da Previdência? No curto prazo? Nem pensar! Se não vejo como aumentar impostos sem atrair a ira das ruas, muito menos mexer nas aposentadorias. Nesse terreno, o máximo que dá para fazer é aprofundar o debate sobre a gravidade da situação, preparando o terreno para medidas futuras. Não esqueçamos que Temer já é acusado de querer cortar os gastos sociais que Dilma está cortando. Esse ônus já está precificado e é inescapável.
Onde antevejo margem para alguma alteração estrutural capaz de ser assimilada sem maiores resistências e com potencial sobre a geração de empregos é na medida que prevê a sobreposição à Lei dos acordos trabalhistas entre empregados em empregadores, trocando preservação ou geração de empregos por redução de custos de contratação e demissão. A Justiça Trabalhista (absurdo!), tem anulado esse tipo de acordo alegando desrespeito à legislação. Dado o cenário de recessão e desemprego, há espaço para avanços nessa área, sem que o debate se perca na chicana das desonerações seletivas implementadas pelo PT e anuladas pela própria ineficácia e obtusidade da ótica econômica petista.
Assim, passo a passo, testando cada possibilidade antes de agir, medindo no milímetro o eventual avanço e o microcrédito político conquistado junto à opinião pública e o mercado no curtíssimo prazo, Temer poderia ir criando as condições para algumas ousadias moderadas à medida em que, se acertar mão, o povo for lhe concedendo a possibilidade de curtir mais algumas noites no motel. O povo, em seu próprio benefício, deseja que Temer acerte. O Brasil precisa que Temer acerte.

Assim agindo fecharemos as contas das planilhas de Mansueto Almeida? Não sei. Mas, a Economia e a Política são ciências do comportamento. E, para fechar as contas nessa matemática política, impõe-se criar um ambiente favorável para que os especialistas em planilhas trabalhem em condições de conduzir os números ao devido lugar.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

WHY THE IMPEACHMENT IS LEGAL AND 93% OF BRAZILIANS SUPPORT IT

By Paulo Gabriel Martins de Moura, PhD
Master in Political Science by the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), with a doctorate in Communication by the Pontiff Catholic University of Rio Grande do Sul (PUCRS), and professor of Political Science of the Lutheran University of Brazil (ULBRA)


The approval by the lower house of Congress of the commencement of the imepachment process by 367 against 137 votes is the result of the persistence of millions of Brazilians who have been peacefully protesting on the streets and creating social movements for this end since the beginning of 2015.
The impeachment petition signed by Helio Bicudo (former national leader of the Workers Party, to which presidente Dilma belongs), Janaina Paschoal and Miguel Reale Jr., three renouned lawyers in Brazil, was filed on May 27 with the suport of ‘Brasil Livre’, ‘Vem Pra Rua’, ‘Revoltados Online’, ‘Brasil Melhor’ and many other social movement groups that organize (without the support of any political party or corporate sponsors) the successive protests which have been taking millions of Brazilians to the streets since March 2015.
This impeachment petition accuses Dilma Rousseff of disrespecting the Fiscal Responsibility Law, and is supported by the evidence provided by the Federal Court of Accounts (TCU), that is responsbile for assisting the Congress in auditing the Executive branch of the Republic, and that has rejected by unanimity the government acccounts.
The impeachment proceedings obey the constitutional requirements, were approved by the Brazilian Supreme Court (STF), and are expected to be approved by the Senate in the next few weeks. The President, besides having committed fiscal fraud, which has generated an economic crisis without precedents in the Brazilian history (three years of recession with a negative 4% fall in the Gross Domestic Product (GDP), has also had her direct assistants cited by informers who made plea-bargain confessions in the Car Wash Investigations as having financed her electoral campaigns with money taken from Estate companies. There already exist evidence that Dilma has obstructed justice as well as having committed various other crimes. These crimes have led to the filing of yet another impeachment petition filed in Congress by the Bar Association of Brazil (OAB). 
Due to the fear of iminente loss of power, the Workers Party (PT) and Dilma Rousseff have decided to use the international media to plant a fantastic version of the facts saying that the impeachment is a coup d’etat, and does not find support in the facts. Therefore, the social scientist Augusto de Franco has mapped the false arguments of the Workers Party and identified the 7 lies that Dilma Rousseff is attempting to spread via the international media.

7 LIES THAT LULA, DILMA ROUSSEFF AND THE WORKERS PARTY (PT) HAVE INVENTED TO FOOL THE FOREIGN PRESS AND MANIPULATE THE PUBLIC OPINION… and the seven truths they omit to convey:-
The narrative of Lula, Dilma Rousseff and the Workers Party and its supporters reveal the narrative schemed by the Workers Party to spread to the international press that there would be a coup in Brazil. Let’s turn the questions - with some additions – into a script of false claims.
1 - By voting for opening the process, almost no congressman/woman mentioned the central point of the impeachment process, i.e. budgetary crimes. This is evidence that Dilma is being thrown out of office for other reasons not in the process.
2 - Government says previous administrations and state governments - including PSDB (major opposition party) - also employed budgetary crimes and were not shot down.
3 - When voting, congressman Jair Bolsonaro extolled the 1964 military regime and Colonel Ustra, convicted of torture and kidnapping. This proves that right is involved in the conspiracy to take Dilma out of office, without her having committed any crime.
4 - The US would be interested and would be working behind the scenes in favor of a change of government in Brazil.
5 - The next step to impeachment will be an operation to muffle the “Lava Jato” investigation to save corrupt politicians who want to depose Dilma. Most of those who voted for impeachment are corrupt and are just trying to escape justice.
6 - The head of congress, Eduardo Cunha had no credibility to conduct the impeachment. Allegations against him make his position untenable. He set it up for revenge and led the process to obtain the approval of impeachment by the House.
7 - Michel Temer, the vice president, is unable to preside over the country. Temer is mentioned in the Lava Jato and complicate his situation.
Conclusion. The process is illegitimate. It seeks to revoke the 54 million votes received by an honest person, legitimately elected. It is a Coup (parliamentary) struck by the elites, by the conservative sectors and the right, who do not accept the results of the 2014 elections and who do not accept seeing the poor attending college and taking air-travels.
WHAT LULA, DILMA AND THE WORKERS PARTY FAIL TO MENTION
1 - That the process of impeachment was validated by the Supreme Federal Court, whose members (8 in 11) were mostly appointed by Lula and Dilma. That it was the Supreme Court that established the process (which is being closely followed by the Congress) and that most of its ministers (as judges in the Supreme Court are called in Brazil) publicly repudiate the false accusation that there is a coup in the country.
2 - That the vast majority of Members who voted in favor of impeachment (367 of the total of 513 against only 137 in favor of Dilma) were the government's base until recently. That Temer is the vice-president, chosen twice in a row by Rousseff and the PT, as the representative of the main alliance (with the PMDB) and was even named by Dilma recently as her political operator. That, so far, there is nothing consistent and discreditable to Temer in THE Lava Jato. That Cunha left the government coalition and not the opposition and that he was not the one who approved the impeachment, having only fulfilled the role of protocol to abide to the request for impeachment and forward its proceedings as Speaker of the House of Representatives.
3 - That all the leaders of the parliamentary opposition support the continuation of the Lava Jato operation and that the vast majority of the population also supports it, in addition to considering the judge Sergio Moro as a kind of hero of democracy.
4 - That the impeachment was only forwarded by the parliament due to the strong support of millions of people on the streets, in the largest political demonstrations in Brazil's history, on March 15th, April 12th, August 16th, 2015 and on March 13th and April 17th, 2016. That in Brazil there is now a popular opposition that was not organized, nor is led by any traditional political player, but emerged from the society and is willing to exercise the democratic resistance. That this popular opposition has nothing to do with Temer, Cunha and even with Aécio Neves (President of the main opposition party).
5 - That the vast majority of the population (almost 80%), according to surveys of all serious opinion polls, disapprove Dilma’s government and that over 60% of Brazilians are in favor of the impeachment.
6 - That Dilma committed several crimes of responsibility, which are typified in the report of the impeachment committee of the House of Representatives. That in Lula’s and FHC’s government there really was a mismatch between the moment public banks were spending to finance some social programs and the moment the bank received the money from the Treasury, but the Total amount in FHC’s government was R$ 500 million, in Lula’s the same thing, whereas with Dilma the were R$ 57 BILLION (much of it spent irregularly during an election year). That she also committed - though this is not on trial in the current impeachment process - many other crimes linked to the fraudulent purchase of the Pasadena refinery and the Petrolão (major corruption scheme involving the largest oil company in Latan - Petrobras) as a whole, that she practiced obstruction of justice (by appointing a minister from the Supreme Court to free the head of the contractors gang, Marcelo Odebrecht, from jail), that she was involved with the making of a false dossier against Ruth Cardoso, through its agent in the Civil House, Erenice Guerra (who is being sued by a bunch of other very serious crimes). And that in addition to all of this, she has become the deputy head of this faction (the head is Lula), turning the Planalto Palace into a bunker where she rallies to the partisan militancy and strikes attacks at the parliamentary and judicial institutions of the democratic state. That in practice, she has already delivered the presidency to Lula (who has no mandate, but has the power to buy parliamentarians holding public office with cash in a hotel room located near the Alvorada Palace, the official presidential residence). Finally, that she has invented and keeps repeating in Brazil and abroad, the false narrative of the coup, contrary to what the institutions of Brazilian democracy say.
7 - That the request for impeachment was not submitted by the opposition but by Helio Bicudo (former national leadership member of PT), Janaina Pachouli and Miguel Reale Jr., all known jurists with good reputation, having nothing to do with corruption.

quarta-feira, 16 de março de 2016

LULA MINISTRO É O ÚLTIMO SUSPIRO DO MORIBUNDO


Gente, desde o início o que está por trás do tabuleiro das aparências é um jogo de Moro contra Lula, jogado no tabuleiro debaixo da mesa. Poucas pessoas percebem, mas o resultado concreto desse jogo revela Lula com cada vez menos espaço de manobra.
Minha avaliação é que a entrada do Lula no governo é a última cartada; o último suspiro do moribundo. O que mais poderá Lula fazer depois dessa jogada?
Agora é hora de dar linha ao peixe. Especula-se com Meireles no BC e um ministro da Fazenda com perfil "Palocci". Em sentido contrário ao que se especula sobre queima de reservas e baixa dos juros na marra, Lula pode buscar apoio do mercado com medidas estruturais ortodoxas e medidas populistas de baixo custo para a massa (aumentar bolsa família, por exemplo). Há sinais de que Renan vai dar crédito ao Lula.
É cedo para saber, mas não devemos subestimar Lula. Não sabemos, também, se as medidas na Justiça tentando anular a posse de Lula darão certo. Na minha leitura, repito, é hora de dar linha ao peixe, tendo uma certeza: depois de Lula completar seu lance e assumir o governo, será a vez de Moro reagir. Munição ele têm e se não prendeu Lula é porque não tem tudo o que precisa para prender e não soltar mais.
Lembrem-se, a operação Lava Jato está no número 24, mas na prateleira dos documentos das próximas operações, já havia, até a semana passada, arquivos numerados até o 31. Quando age em público, moro está sempre vários passos à frente no bastidor.
Quanto de fôlego Lula terá? Não sei. Mas, que milagre ele pode fazer para salvar a economia e mudar o humor do povo no curto prazo? Que milagre ele pode fazer para barrar Moro, impedir a prisão de seus filhos, impedir as consequências da delação de Delcídio?
Avançamos quilômetros no território deles e Lula está erguendo barreiras defensivas na sua última trincheira. Ainda pode ter alguns tiros para dar, mas duvido que consiga segurar a avalanche de fatos negativos que vai emergir em profusão contra ele e o PT.
Lembrem-se que, até a pouco, especulava-se com a ida de Lula para a oposição à Dilma e agora ele se viu forçado a tomar o poder num golpe branco. Assumiu sua criatura. Repito: o que restará a ele quando esse lance esgotar seu potencial?
Todo moribundo dá uma melhoradinha antes de pegar na mão daquela senhora de preto que aparece com um gadanho na mão para levar os maus para o inferno. Isso não significa que devamos ficar passivos. Mas, também, significa que devemos manter acesa a chama da esperança. Eu confio em Moro e na dinâmica do fatos para responder à altura esse golpe do PT.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

CARTA ABERTA PARA BEL PESCE

Por Paulo G. M. de Moura

Querida Bel Pesce;
Você não me conhece. Mas, quando o horário do seu comentário na CBN coincide com o momento em que estou levando meu filho ao colégio te ouço. Por isso, resolvi ouvir sua leitura traduzida da “Carta Aberta ao Brazil”, escrita e publicada no Facebook por um tal Mark Manson, um cara que eu não saberia quem é não fosse por você, e que veio aqui, pegou uma das “nossas” garotas e está levando-a embora para a casa dele no EUA, certamente por escolha certa dela. Bom, pelo menos ele é um cara correto e está avisando: Oh! Tô levando...
Voltemos à tal carta. Ouvi você lê-la até o fim. Fiquei um pouco incomodado com algumas passagens do texto, mas, como me empolguei com o conjunto da obra (sou impulsivo), e como a carta contém algumas verdades inegáveis sobre certos problemas de caráter da nossa nação, saí compartilhando inadvertidamente, com meu filho de dezesseis anos, meus irmãos (menos para uma irmã que é petista), e para meus melhores amigos.
Ao ouvi-la lendo a carta, o meu amigo Jefferson da Silveira postou o seguinte comentário abaixo do seu post que repliquei no meu Face: Acho este vídeo danoso, pois ela afirma que não adianta tirar a Dilma que nada vai mudar... por que precisamos mudar nós e que a economia está tão problemática que não tem solução... ESTE PAPO É MUITO BOM PRO PT, PRECISAMOS FALAR EM TIRAR A DILMA E O PT PARA ONTEM... QUE AS COISAS VÃO MELHORAR PRINCIPALMENTE A ECONOMIA... todo o resto se muda com, educação e vai levar muito tempo; precisamos resolver o agora!
Quer saber Bel. Fiquei tão incomodado que acordei diversas vezes essa noite pensando nisso. Logo cedo (hoje é domingo) saí da cama e fui ler a carta na fonte. Putz! Logo eu, que sou analista político de profissão deixei essa bola passar no meio das minhas pernas? Logo eu que aprendi com Aristóteles que todo discurso é uma meia verdade, fui esquecer de ler as entrelinhas da carta do Manson?
Sabe como me senti Bel? Como seu eu tivesse batido no retrovisor do carro de todas as pessoas para quem compartilhei teu vídeo. Bah! Só conseguirei dormir direito na próxima noite se eu for atrás de uma por uma das minhas vítimas para “indenizá-los” com esse esclarecimento. Viu Mark Manson!?
Em síntese, o meu amigo Jefferson disse o que importa. Mas, sinto-me obrigado a ir aos detalhes.
Sim, é verdade que “Não é segredo para ninguém que você (o Brasil) está passando por alguns problemas. Existe uma crise política, econômica, problemas constantes em relação à segurança, uma enorme desigualdade social e agora, com uma possível epidemia do Zika vírus, uma crise ainda maior na saúde”.  
Opa! Em todos esses casos, não foi o povo brasileiro que bateu no retrovisor de si mesmo e fugiu sem pagar. Está certo que aquilo que os partidos nos oferecem para escolher como governantes é o que há de pior na nossa sociedade. Isso, no entanto, não elimina o fato de que estamos sendo governados há 13 anos pelo Partido dos Trabalhadores, e que, portanto, às crises a que você se refere têm responsáveis flagrados e identificáveis pelas “câmeras de segurança” da imprensa independente (que ainda existe graças à internet, não obstante as tentativas do PT para acabar com nossas liberdades).
Óbvio que, se acreditamos no valor da liberdade, na capacidade autônoma dos indivíduos de construir seus destinos individuais e coletivos e na responsabilidade de cada um e de todos pelas decisões e atitudes que assumimos, temos que concordar com o argumento do Manson quando ele afirma que há uma relação entre o “caráter” nacional dos brasileiros, a herança fundacional da nação e o destino desastroso que construímos ao nos deixarmos governar pelo PT por 13 anos (que nos custarão uma geração ou mais para consertar, se fizermos as escolhas certas daqui para frente).
Mas, vamos com calma nesse negócio de dizer “você é o problema”. Você que estudou nos EUA, numa das melhores universidades do mundo, e que, “foi eleita um dos líderes mundiais mais admirados pelos jovens”, sabe que todo norte-americano sai da maternidade já com um PhD em marketing. Manson, além de bom marqueteiro de si mesmo, faz na sua carta referência às “teorias sobre o sistema de governo, sobre o colonialismo, políticas econômicas, etc.”. Mas, ele preferiu substituí-las pelo seu dedão de Tio Sam acusando todos os brasileiros de sermos responsáveis sobre essa Zica, com “C” que se abateu sobre nós.
Zica, no meu tempo (tenho 55 anos), significava “algo muito ruim que aconteceu, como um azar, uma confusão que ocorreu, um problema ou desentendimento. (...) Ou, na gíria uma maldição, um momento de baixo astral, pode ser também um mau presságio, um mau agouro” (http://www.sonhosbr.com.br/sonhos/significados/significado-de-zica.html).
A epidemia de Zika, com “K”, tem várias causas, dentre as quais a irresponsabilidade dos nossos governantes no combate ao mosquito Aedes Aegypti (parcialmente compartilhada por gente que não cuida do “seu quintal”). Mas, você sabia que a microcefalia pode ter origem no larvicida Pyriproxyfen usado pelo governo para combater o mosquito causador? Ou, segundo uma denúncia que circula na internet, pode ser consequência de um lote de vacinas vencidas aplicadas irresponsavelmente na população vítima, pelo governo? Ninguém vai investigar e desmentir isso?
Mas, o Triplo X da questão, que mais me incomodou na carta do Manson está nessa frase aqui oh: “Você está ferrado. Você pode tirar a Dilma de lá, ou todo o PT. Pode (e deveria) refazer a constituição, mas não vai adiantar. Os erros já foram cometidos anos atrás e agora você vai ter que viver com isso por um tempo”.
Como assim não vai adiantar tirar o PT?  Conviver com o que por um tempo? Com a Dilma por mais três anos?
O Mark Manson, que conhece “teorias sobre o sistema de governo, sobre o colonialismo, políticas econômicas, etc.” para explicar o Brasil, reconhece que nosso “governo não vai conseguir pagar todas as dívidas que ele fez a não ser que mude toda a sua constituição”. Finalmente ele, que está indo embora e levando uma das “nossas” garotas de sorte para os EUA, acha que tudo bem nós continuarmos aqui nessa merda, governados pelo PT por mais três anos, sabendo que a Dilma não tem a menor intenção de reformar a Constituição e que está insistindo na política econômica desastrosa que nos trouxe até aqui?
Bel, a Argentina estava pior que o Brasil, mas elegeu o Macri. O cara recém sinaliza algumas medidas políticas e econômicas em sentido oposto às dos governos bolivarianos e os investidores internacionais já começaram a se interessar em voltar a investir lá (inveja branca de Los Hermanos).
Bel, a maioria esmagadora dos brasileiros, hoje, todas as pesquisas comprovam, reprova o governo da Dilma e apoia o seu impeachment. Os poucos brasileiros que ainda se opõem ao impeachment são aqueles que “bateram no nosso retrovisor” e estão querendo fugir sem pagar. Eles formam a elite que controla o Estado sob comando do PT, que por sua vez, tem na sua mão os rabos comprados da maior parte dos políticos (inclusive da oposição), de parte importante dos juízes, das grandes empresas de mídia e de grande parte dessas empresas que, como diz Manson “pegaram dinheiro demais emprestado (no BNDES, no Banco do Brasil e na CEF?) quando o dólar estava baixo, lá em 2008-2010 e agora não vão conseguir pagar já que as dívidas dobraram de tamanho. Muitos vão falir por causa disso nos próximos anos e isso vai piorar a crise”.
Sim, muitas dessas empresas e outras tantas envolvidas na Lava Jato vão falir e dar o calote nessa população que “não é do tipo que poupa”.  Quer, dizer, só não vão falir se a mídia, os políticos, os juízes e algumas das “lideranças mundiais mais admiradas pelos jovens” continuarem se omitindo na responsabilização dos acionistas dessas empresas que deveriam indenizar com seu patrimônio em ações e propriedades o saque aos cofres públicos da nação. Nos EUA é assim que se faz. Vamos aceitar passivamente eles fugirem sem pagar?
Bel, você estudou no MIT e, evidentemente, pelo sucesso profissional rápido que conquistou tão jovem, entende de marketing. Então vamos lá: você sabe qual é o principal argumento que o marqueteiro do diabo que orienta o PT inventou para livrar Lula e sua turma da cadeia? Ele aponta o dedão acusador para todos nós brasileiros com esse mesmo argumento do Manson: “o culpado é você que também é corrupto”!
E, claro, se todos somos corruptos, ou vamos todos para a cadeia, ou devemos deixar Lula, Dilma e o PT livres e impunes, como Manson sugere ao dizer que “não adianta tirar o PT”, pois estamos e vamos continuar ferrados por uma década.
Uma década só? Incluindo mais três anos de governo petista? Otimista demais ele. Não te pareceu?
Quer saber Bel, esse é o principal problema da carta do Manson ao Brasil. No meio de algumas verdades que ele apontou há mal explicadas lacunas. E, justamente, as lacunas mais sintomáticas, coincidem com os argumentos que Lula, Dilma e o PT esgrimem para continuar impunes e no poder,
Desculpe-me a franqueza Bel. Não sou adepto de teorias da conspiração, mas, no sono inquieto dessa madrugada cheguei a pensar que o tal Mark Manson é um personagem fictício e que essa carta que você leu de boa-fé, era obra do marqueteiro do diabo para tentar esvaziar as novas manifestações pelo impeachment que faremos dia 13 de março próximo.
Talvez eu devesse dirigir essa carta para ele. Mas, eu sei que você existe e escolhi você, pois foi através do seu vídeo que tomei conhecimento da tal carta. E, nesse momento, seu vídeo já ultrapassou 2,6 milhões de visualizações.

Não seria correto de minha parte quebrar o retrovisor de tanta gente ao compartilhar sem críticas esse seu vídeo lendo a carta do Mark Manson. Espero vê-la nas ruas conosco dia 13 de março na luta para tornar mais breve o sofrimento de todos nós. Bom domingo para você.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

RUM COM COCA COLA - RELATOS DE UMA VIAGEM À CUBA

Em 1924 Trotsky e Stalin divergiram sobre os destinos da revolução russa. Trotsky defendia a necessidade de implantar o socialismo em todo o mundo. Stalin defendia a viabilidade do socialismo num só país. A Rússia vivia as dificuldades dos primeiros anos da revolução. Para estimular a economia, Lenin defendeu “dar um passo atrás para, depois, dar dois passos à frente”. A Nova Política Econômica (NEP) restabeleceu a livre inciativa e a pequena propriedade para estimular o crescimento da economia para, depois, “avançar” com a estatização total.

Com o fim da URSS, que importava açúcar a preços superiores aos de mercado (hoje Cuba importa açúcar), os cubanos enfrentaram tempos difíceis. O regime rendeu-se à “NEP” de forma envergonhada. Por isso, a escassez reina. Charutos, rum e turismo é o que Cuba vende. E agora, acabou-se o petróleo venezuelano grátis. A esperança vem dos EUA.

O Estado emprega 7 milhões de “oficiales” num país de 11 milhões de habitantes. Mesmo nas empresas mistas (51% do governo e 49% do investidor), os funcionários são públicos. O salário, em pesos, dura uma semana para compras nos armazéns do Estado. Um cubano precisa de vinte e cinco pesos para comprar um CUC (peso conversível equivalente ao Euro). Os trabalhadores do tabaco recebem parte do salário em folhas de fumo. Fabricam charutos piratas para vender aos turistas alegando serem produto de cooperativas. Agricultores e pescadores desviam produtos para vender em CUCs no mercado paralelo.

Uma obra exequível em um ano de trabalho consome até cinco anos sob essas condições. Todos fazem corpo mole e precisam sair às ruas a partir das 14:00 para trabalhos autônomos pagos em CUCs, caso contrário falta o que comer. Quem não consegue passa fome e pede comida, roupas e sabonete aos turistas.

Os serviços aos turistas são os mais rentáveis. Ao sair dos hotéis você é abordado por pessoas que indicam restaurantes. Esse serviço é pago em comida pelos donos dos “paladares”; restaurantes familiares, antes clandestinos e agora legalizados. O nome tem origem numa novela, na qual o personagem de Regina Duarte tinha um restaurante chamado “Paladar”.

Os taxis são “ótimo” negócio. Há taxis “rentados” ao Estado e taxis privados. Quem arrenda o carro paga vinte e sete CUCs por dia ao governo. Mas, o governo proíbe o taxista privado de fazer ponto. Se for flagrado (há câmeras por toda Havana) “parqueado” em frente aos hotéis, o taxista paga quinhentos CUCs de multa. “- Esses caras dão um passo adiante e dois para trás”, ironizou nosso taxista, lembrando Lenin.

O governo cobra dez por cento ao ano de imposto desses capitalistas. Não há taxímetro ou caixa registradora nos restaurantes, pequenos mercados, bancas de artesanato ou salões de beleza. O leão socialista define uma média do que imagina ser o faturamento do pagador de impostos. Se for “subdeclarante” o empreendedor cubano conhecerá suas garras. Todos pagam um pouco mais do que a média oficial.

Não se veem cubanos obesos em Havana. O povo está acostumado a comer pouco e a passar muitas horas sem comer. Pagamos almoço a um taxista. Arroz, feijão, salada; peixe, frango ou porco e um refrigerante. Carne de vaca não há. Um legítimo PF por quinze CUCs. “– Com essa refeição posso passar três dias sem almoçar”, disse ele.

Nos resorts de Varadero há cubanos “bem nutridos”. Os funcionários fazem as refeições nos hotéis. Maquiagem, roupas e calçados de melhor qualidade doados pelos turistas, fazem a diferença visual entre cubanos de Havana e Varadero. Cubanos de Havana não podem se mudar para Varadero para comer e vestir melhor. O governo não deixa. Somente moradores próximos podem trabalhar nos hotéis.

O povo cubano vive amontoado em casas em decomposição. Três gerações sob o mesmo teto. Caminhões pipa abastecem suas caixas d´água. Água também é produto escasso. Os taxis são inacessíveis para quem não ganha em CUCs. Os cubanos vivem na rua e nas praças e só vão para casa dormir. Caminham muito pela cidade pois o transporte coletivo é precário, escasso e lotado. Em Havana são ônibus velhos. Fora de Havana o transporte faz-se em caçambas de caminhões com bancos de madeira e cobertos com lona.

E a saúde? Em poucas palavras um taxista descreveu-nos o SUS. Sim, o que se alardeia como maravilha são serviços padrão SUS. Saúde preventiva em condições precárias e poucos hospitais com alguns equipamentos de diagnóstico (tecnologicamente superados). E muita propaganda. Um cubano pode levar meses na fila por um exame nesses equipamentos. A menos que se torne “cliente privado” de um médico pago em CUCs, que, dará um “jeito” de furar a fila.

Um dos nossos taxistas pegou em armas na revolução. Tem mais de setenta anos. Ganha mais como taxista do que ganhava como engenheiro. Dirige um carro com mais de sessenta anos de rodagem com pneus novos presenteados por um turista europeu. Levou-nos a Miramar. O bairro das mansões que lembram a Miami dos anos 1950. Todas essas mansões são embaixadas? “- Não. Aqui vivem os nossos governantes. - Logo adiante é o ‘Reparto Zero’, onde vivem Fidel e seus familiares.” Podemos ver? “- Não! Zona proibida. Inclusive, desde aqui onde estamos você vai preso se fotografar. – Veja as placas.”

Não obstante, ouve-se de cubanos de diferentes quadrantes da ilha: - “Não temos mais problemas políticos, nossos problemas são econômicos”. Repetem o jargão da retórica oficial, alegando que não há mais conflitos internacionais em função da oposição ao regime, apenas as consequências do embargo.

Mas, o anseio por liberdade e a esperança no fim do embargo revela-se sempre, de forma mais ou menos explícita nas falas e olhares dos cubanos. Cuba é um mar de oportunidades. Temo que a prosperidade, quando jorrarem os dólares, seja percebida como obra dos Castro. E, que “Cuba Libre” continue sendo apenas “rum com Coca Cola”.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DILMA E AS CIRCUNSTÂNCIAS DO GOVERNO QUE HERDOU

A presidente Dilma esforça-se para transparecer que o momento é de normalidade e que reina a calmaria na cena política. O anúncio da equipe econômica foi o lance principal desse esforço para impor uma agenda positiva ao noticiário dominado pelo escândalo da Petrobrás e pelos números cada vez piores da economia.

O “mercado”, dizem, reagiu bem aos três nomes. Sempre acho estranha essa propensão ao otimismo e ao desejo de acreditar no governo que essa entidade abstrata que chamam de “mercado” revela pela boca de certos comentaristas. Qualquer analista com conhecimentos parcos da teoria econômica poderia prever, com base nos livros e na experiência, que as aventuras de Dilma e Mantega na condução da economia só poderia dar no que deu.

As estripulias começaram quando Mantega assumiu o ministério da Fazenda esforçando-se para destruir o trabalho de Henrique Meireles no BC, para conter a inflação. Isso, no entanto, não impediu a conceituada revista The Economist, de insuspeitas inclinações liberais, de publicar aquela capa com o Cristo Redentor disparando aos céus como um foguete a representar a suposta consistência dos rumos do Brasil sob comando petista.

Não bastaram a teoria e as experiências pregressas com as concepções econômicas de Dilma e Mantega para The Economist projetar o cenário que hora se apresenta. Foi preciso o fracasso se apresentar como evidência e prova para que The Economist publicasse outra capa com nosso Cristo voando como galinha rumo ao fundo da baía da Guanabara.

E o erro se repete com a anúncio da “nova” equipe econômica. A toada dos comentaristas chapa branca reconhece os tempos difíceis, afinal, não dá para negar o óbvio, mas revela otimismo e confiança de que Dilma teria se rendido e jogado os livros nos quais estudou economia no lixo e mudado de posição para o extremo oposto.

O fiador desse otimismo injustificado é Joaquim Levy. Somente ele. Nelson Barbosa reza pela cartilha de Dilma e Mantega em matéria econômica e somente saiu do governo por discordar da criatividade de Arno Augustin no trato da contabilidade governamental.

O aumento dos juros logo após a eleição foi percebido pelo “mercado” como sinal de independência do BC. É o contrário. O aumento dos juros se fazia necessário muito antes da eleição e só não aconteceu porque Tombini obedeceu as ordens de João Santana. Tombini somente foi guindado à presidência do BC por ser submisso à Dilma.

As tintas com que mandaram pintar a fachada da “nova” política econômica, de fato, respondem à necessidade incontornável de corrigirem-se as trapalhadas de Dilma e Mantega nos dois últimos mandatos presidenciais. Levy é um cavaleiro solitário lutando contra o exército de ministros da Dilma, todos sedentos por gastar, gastar e gastar.

Os otimistas baseiam seu otimismo na comparação entre o governo Dilma II com o governo Lula I. Ocorre que os ajustes ortodoxos patrocinados por Palocci no governo Lula I foram implementados tendo como base uma economia com os fundamentos organizados legados por FHC ao seu ingrato sucessor.

A situação atual é muito diferente. Não há mais dinheiro sobrando no mundo com disposição para correr riscos em apostas em quem pensa e governa como Dilma e o PT. Há quem confunda inflação com o índice que o IBGE divulga de tempos em tempos. O índice é apenas o índice. Inflação é um fenômeno econômico decorrente do descontrole do gasto público e não do aumento ocasional do preço do chuchu, do tomate, da carne ou dos ovos.

Enquanto os fundamentos da economia não forem reorganizados, não bastará ao BC aumentar ainda mais, e sem convicção, os juros, para conter a inflação. A bagunça é tamanha que torna difícil entender-se a pressa com que o “mercado” sorriu para Dilma olhando para Joaquim Levy.

As análises mais sérias que se podem encontrar nas páginas dos jornais projetam um cenário de prolongada estagnação (ou recessão) com inflação cercando o teto da meta nos próximos dois anos, somente caminhando para um crescimento de 2% do PIB em 2018, ano em que Lula decidiu voltar à Presidência da República. Isso, é claro, se Dilma deixar Joaquim Levy fazer tudo o que precisa ser feito para consertar seus estragos.

Faltou combinar com os árabes, que decidiram derrubar os preços do petróleo para um patamar próximo dos U$ 50,00 o barril, por cerca de quatro ou cinco anos, para tornar desinteressante aos americanos o investimento nos novos métodos de produção do ouro negro e do gás de xisto.

Essa decisão levará a Venezuela ao colapso nos próximos dias e forçou Cuba a abrir as pernas para Obama, pois os Castro sabem que da Venezuela e do Brasil não receberão mais almoço “grátis” às nossas custas. Só o capitalismo, de mercado ou de estado, salvará Cuba de um destino venezuelano. E isso tem fortes impactos políticos sobre o projeto bolivariano hegemonista que o Foro de São Paulo projetava para o continente. Dilma terá que se virar sozinha para sair dessa enrascada.

Tudo indica que recém começa-se a perceber o tamanho do estrago que a quebra da Petrobrás causará à economia brasileira. Os custos econômicos dessa aventura patrocinada pelos corsários do lulopetismo ainda não são claros e crescem assustadoramente a cada dia que passa. Lula e Dilma gastaram os créditos futuros do pré-sal. A Petrobrás não tem dinheiro nem crédito para financiar a exploração no mar profundo. Explorar esse petróleo se tornou desinteressante com o barril a U$ 50,00.

Isso que as investigações nas demais obras públicas de todo o país e de vários ministérios, da lista de 750 encontradas na planilha de Alberto Youssef, sequer começaram. Dadas as circunstâncias, não convém, também, menosprezar a declaração do Procurador Federal Hélio Telho Corrêia Filho ao afirmar que o escândalo do BNDES poderá ser sete vezes maior do que o do petrolão e o do mensalão juntos.

Terá Dilma a humildade, a competência e a coragem para desfazer a cagada de Lula quando resolveu mudar o sistema de exploração do petróleo do modelo de concessões criado por FHC, pelo modelo de partilha? Será possível recuperar a Petrobrás sem privatizá-la? E se a privatização for inevitável, Dilma venderia o que sobrou da “nossa” queridinha? E a Eletrobrás? E o BNDES? Duvido!

Bem, até aqui estivemos falando de economia. Mas economia não é ciência dos números; é ciência do comportamento. E, não é possível projetar cenários econômicos sem considerar as variáveis políticas, que também são comportamentais. Não parece que o apressado otimismo com que o “mercado” recebeu Levy tenha precificado essa variável em todas as suas dimensões. Até porque, a ignoraram e também, porque os custos intermináveis dessa roubalheira indiscriminada não param de jorrar das páginas do noticiário. Impossível precificar agora.

Lula foi chamado à PF para esclarecer o mensalão e será chamado de novo para explicar o petrolão. Se a PF está chamando Lula só pode ser porque o nome de Lula já circula nos relatórios das delações premiadas. Assim como os custos econômicos da destruição da Petrobrás não param de crescer, a precificação do strike que esse escândalo fará em todo o sistema político também é impossível agora, diante do desconhecimento sobre o tamanho da frota de corsários que sangra os cofres públicos a serviço do projeto hegemonista do petismo.

Num país sério todos os condenados deveriam pagar penas perpétuas. As empreiteiras deveriam ser declaradas inidôneas e sofrer intervenção do governo na tentativa de sanear o setor e salvar algumas com novos donos. Mas, para isso, Dilma, ou o presidente que vier a sucedê-la depois do impeachment, terá que abrir o mercado às empreiteiras estrangeiras. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?

Num país sério, certamente, ao final das investigações desse escândalo, partidos-máfia inteiros terão que ser extintos e proscritos. Quem terá vontade ou coragem de fazê-lo?

Por fim, não convém menosprezar as manifestações de rua que se seguiram ao fim da eleição pedindo o impeachment de Dilma. A imprensa mente e distorce os fatos, tenta minimizar e descaracterizar essas manifestações. Mas, num cenário que combina crise econômica com crise política e institucional, num contexto em que os pagadores de impostos serão chamados a arcar com a conta desse descalabro, a hipótese de que vejamos repetirem-se eventos como os de junho de 2013 não é nada desprezível. Só que agora há líderes à frente das manifestações de 2014. E são todos de direita. E os defensores de um golpe militar são minoritários, para desagrado do PT e da mídia chapa branca.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SALÁRIO MÍNIMO REGIONAL E OPORTUNISMO POLÍTICO

No dia 12/11 ZH estampou capa com o governador que sai propondo aumentar o salário mínimo em 16% e com a suposta concordância do governador que entra. O assalariado desavisado deve ter sorrido de felicidade.
Será isso uma bondade? Que consequências a virtual aprovação dessa medida pelos deputados trará para a economia gaúcha?
Nossa economia encontra-se a caminho da recessão. A inflação está acima do teto da meta e, tudo indica, se manterá assim em 2015. O emprego industrial caiu pelo sexto mês consecutivo. Esse cenário é radiografia do passado.
Governo novo, ideias novas, lembram? No meio empresarial ninguém parece acreditar.
Fechadas as urnas as empresas aceleraram as demissões. O grupo Randon, de Caxias, um dos grandes, acaba de ordenar a redução em 5% em seus quadros. As grandes empresas relutam em demitir devido aos altos custos da dispensa. Empresas desse porte têm fôlego para preservar empregos se vêem o futuro com otimismo. Quando demitem é porque estão pessimistas.
Grandes empresas não pagam salário mínimo. Quem paga salário mínimo são as pequenas e microempresas e os empregadores domésticos. As pequenas e microempresas são as maiores geradoras de empregos.
O que acontecerá com esses empregos se o salário mínimo for elevado em 16%, portanto, 9,5 pontos percentuais acima da inflação? Alguma dúvida?
Todos que acompanharam a recente campanha eleitoral sabem que as finanças públicas do RS foram levadas pelo governador derrotado à mais grave crise de que se tem notícia. Estamos afundados no “cheque especial e no rotativo do cartão de crédito”.
Além disso, o governador que sai deixa como herança aos pagadores de impostos, várias prestações dos aumentos de salários que concedeu ao funcionalismo. Não havendo mais de onde tirar dinheiro, conseguiu com “a gerente do banco”, mais R$ 2 bilhões de “limite do cheque especial” para que possamos nos afundar ainda mais em dívidas impagáveis.
O curioso, para não dizer alarmante é que o já quase ex-governador sorri para as câmeras dizendo que deixou tudo pronto para o governador que entra fazer um excelente mandato. Completa o serviço com a “bondade” fatal para os milhões de futuros desempregados que produzirá nas micro e pequenas empresas gaúchas.
O que pensar de um “concertador” de obra tão magnífica? Quem terá coragem de desarmar essa bomba?

(Publicado originalmente em http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2014/11/14/artigos-salario-minimo-regional/)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A OPOSIÇÃO EFICAZ

Em junho de 2013 milhões foram às ruas contra a corrupção e por melhores serviços públicos de transporte, educação, saúde e segurança. O que ocorreu em 2013 nada tem a ver com as mobilizações que a esquerda costumava liderar no século XX, sob o comando de sindicatos, associações de bairro, entidades estudantis e a esquerda da Igreja. Emergiu no Brasil, assim como na Espanha em 2004, na Tunísia e no Egito em 2011 e na Turquia, Ucrânia e Venezuela mais recentemente, um fenômeno típico das sociedades-rede.

Correndo por fora das organizações tradicionais, milhões de cidadãos conectados pelas mídias sociais saíram às ruas para se manifestar e, sem planejar isso como objetivo, derrubaram ou desestabilizaram governos. Tudo ocorreu sem lideranças, sem organizações de massas, sem projetos de poder e sem controles.

Na eleição que se encerra, essa mobilização em rede reapareceu com a militância a favor de candidaturas de oposição, movida pelo desejo de mudanças. Milhões de pessoas se expuseram nas ruas e nas mídias sociais, não por que estivessem interessadas em cargos no governo ou em receber bolsas estatais. O objetivo dessas pessoas era a defesa das suas liberdades e da democracia, o fim da corrupção e melhores serviços públicos.

Na eleição, parte da sociedade que foi às ruas pacificamente em junho de 2013, aderiu às candidaturas de oposição no primeiro turno e no segundo turno. Os principais candidatos da oposição souberam encarnar o espírito das ruas e traduziram esse sentimento em sua união no segundo turno. Em algumas cidades vimos passeatas mobilizadas por um povo protagonista, fato inédito em eleições tradicionalmente programadas para o povo ser vaca de presépio em comícios teatralizados para militantes idolatrarem líderes.

Fecharam-se as urnas. O PT, até prova em contrário, venceu. O que aconteceria numa eleição tradicional? Os vencedores se auto elogiariam; os derrotados reconheceriam a vitória; o povo se recolheria à condição de expectador passivo à espera do próximo pleito.

Não é isso que acontece. Os cidadãos que não são controlados por partidos seguem nas ruas. Em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Belém e outras cidades, milhares saíram às ruas dia 01/11/2014 exigindo auditoria da apuração das eleições presidenciais e investigação séria do escândalo do petrolão. No próximo dia 15 estão programadas manifestações em todo o país, com foco na auditoria das urnas e na investigação da corrupção na Petrobrás.

Esse povo se mostra disposto a fazer a oposição que os partidos de oposição nunca fizeram. Essas pessoas estranharam o tom conciliador do Aécio derrotado e aplaudiram a contundência oposicionista que seu ex-candidato a vice, o senador Aloysio Nunes Ferreira, imprimiu à sua primeira fala pós-eleitoral. Aécio recalibrou o discurso e voltou à cena com um vigoroso discurso oposicionista no Senado.

A origem do PSDB não é a rua. O partido nasceu da soma de intelectuais acadêmicos e políticos de centro-esquerda, pretendendo ser uma socialdemocracia de estilo europeu, mas sem as bases sindicais que marcaram o nascimento de seus congêneres do velho continente na segunda metade do século XIX.


O banho de rua que Aécio Neves levou nessa eleição que agora se encerra, foi uma novidade para os tucanos. Se Aécio quer liderar a oposição terá que se deixar liderar por seus liderados nas ruas e nas mídias sociais. Se não o fizer será esquecido; ignorado; atropelado. Não bastará à oposição contestar, apenas na tribuna do parlamento, as medidas autocráticas que o PT pretende implantar para garantir sua perpetuação no poder. Sem povo na rua o Brasil seguirá sua marcha insana rumo à venezuelização.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

PESQUISAS ELEITORAIS SÃO SIMULACROS

As pesquisas possuem grande poder de prognosticar tendências da opinião eleitoral. São pesquisas não publicadas que orientam as estratégias que vencem eleições. No entanto, as pesquisas publicadas têm limites raramente compreendidos pelos leigos e mesmo pelos jornalistas que às comentam.

Nessa eleição a diferença entre o que as pesquisas diziam ao final do primeiro turno e o que as urnas revelaram levou os institutos ao descrédito e minimizou o poder do efeito “bandwagon” (onda de adesão ao líder nas pesquisas) no segundo turno. O eleitor brasileiro parece ter desprezado as pesquisas para decidir em quem votar.

Segundo Bourdieu, em artigo dos anos 1970 (“A opinião pública não existe”), opinião é um discurso articulado impossível de ser traduzido em percentuais. Diz ele, que nem todas as opiniões se equivalem e nem todo mundo tem opinião sobre o que perguntam as enquetes que convertem respostas em percentuais. Igualmente, não existe um consenso pré-estabelecido sobre os problemas que deveriam ser objeto das pesquisas. Ou seja, por trás de quem encomenda a pesquisa e decide o que perguntar há o interesse de influenciar quem lê a pesquisa publicada, mesmo quando o rigor metodológico é obedecido na coleta e análise dos dados. A manipulação não estaria no rigor do método, mas nesses pressupostos falsos sobre os quais se constroem as pesquisas publicadas.

Pesquisas publicadas são cortes verticais na massa de opiniões, no curto espaço de tempo em que os pesquisadores vão a campo. Numa eleição as opiniões estão em movimento, sob influência da disputa entre grupos organizados pela conquista dos indefinidos. Hoje, a opinião é tão arisca quanto o click do mouse que nos conduz a outra página na rede.

As opiniões se formam em círculos de convivência e obedecendo a uma lógica que não encontra em índices estatísticos a forma adequada de representação. Os trackings (monitoramento quantitativo diário) e as pesquisas qualitativas (grupos de eleitores que assistem a propaganda e os debates quando estão no ar, observados por analistas) são os instrumentos que os estrategistas usam para ler essas percepções e calibrar a propaganda para captar votos.

Numa eleição “empatada”, se um fato político (denúncia, escândalo, falha em debate) ocorre muito próximo à coleta de dados, provocando mudanças bruscas das opiniões individuais, dificilmente a pesquisa publicada captará essa alteração. Isso não significa que o instituto errou ao divulgar os índices sobre aquelas perguntas, no momento em que perguntadas. Significa apenas que a pesquisa publicada não capta a mudança brusca.

A situação na qual se constitui a opinião na reta final de um segundo turno em que poucos eleitores indefinidos podem se decidir com base em quaisquer fatores é o inferno dos institutos. As pessoas estão diante de opiniões sustentadas por grupos. Ao se posicionarem estão escolhendo entre grupos, num contexto de disputa de poder e correspondendo a um determinado estado da correlação de forças entre posições em guerra. Quem mantêm distância relativa dos polos que se opõem nesse conflito, os famosos “indecisos”, decide em função da pressão dessas forças constituídas.

As estratégias das campanhas consistem da construção de respostas para demandas comuns dos eleitores. Como essas demandas são as mesmas e as pesquisas encomendadas pelos candidatos mostram isso para todos, impõe-se uma equalização das estratégias que passam a jogar ao máximo com a dissimulação das clivagens para ganhar os votos flutuantes.

Nesse contexto as pesquisas publicadas adquirem relevância extrema para a “fabricação” da opinião pública. A publicação dos resultados de pesquisas prejudica uns e favorece outros. Por isso, criam-se jogos retóricos com a finalidade de usar os resultados para influenciar a interpretação que as pessoas fazem das pesquisas publicadas. E dê-lhe compartilhamentos dos resultados e interpretações que “me favorecem”.

Javier Del Rey Morató mapeou alguns desses artifícios que ele chama de “jogos do termômetro social”. Hoje, diz ele, a difusão desses jogos ocorre sem restrições, e, muitas vezes, seus porta-vozes são analistas a serviço de candidatos. Agentes interessados patrocinam pesquisas e disputam a imposição de versões interpretativas dessas pesquisas. Essas pesquisas estruturam a guerra de versões e desenham o cenário em que vão se desenvolver os jogos de linguagem.

Os jogos retóricos pela imposição de versões sobre as pesquisas buscam definir um cenário que se abre com o jogo de prognóstico dos resultados eleitorais futuros, tomando como base a leitura de resultados de pesquisas presentes. A imposição de uma determinada leitura das pesquisas fisga o observador num anzol.

O analista de pesquisas publicadas, dessa forma, insere-se no jogo como uma espécie de vidente. Apoiar-se no prognóstico dele, se ele “nos favorece”, ou desconstituir esse prognóstico usando outras pesquisas ou outras interpretações das mesmas pesquisas, se ele “nos prejudica”, é um imperativo da disputa em torno da construção de um clima de opinião que “nos interessa”. O passo seguinte é enredar o eleitor na crença de que o simulacro é a realidade. Por isso, nessa eleição, vimos institutos aparentemente independentes, “prestando serviços” às duas candidaturas que passaram ao segundo turno.


Nem sempre funciona. Quando os institutos erram algum prognóstico, depois de terem inundado o espaço midiático com estimativas sobre o resultado da eleição, para explicar a distância entre o prognóstico e o comportamento eleitoral, recorrem às margens de erro; às mudanças bruscas das opiniões sob impacto de fatos novos, enfim, todo o tipo de argumento “técnico” é usado para explicar o inexplicável.

domingo, 2 de novembro de 2014

1964 NÃO SE REPETIRÁ

Na eleição que se encerra fatos inusitados passaram ao largo da percepção dos comentaristas e cientistas políticos que interpretam a política para veículos de comunicação. Milhões de pessoas saíram às ruas nas principais cidades do país para apoiar Aécio no segundo turno. Gente sem partido querendo mudança. Há algo em comum entre esse povo que carregou Aécio nos braços no chão da rua em passeatas inéditas em véspera de eleição e o espírito das manifestações de junho de 2013.

Fecharam-se as urnas. Aécio reconheceu a derrota e declarou que o desafio de Dilma é reconciliar-se com a fatia da sociedade que não aguenta mais o PT. A reação dessas pessoas sem partido nas redes sociais foi crítica a Aécio e elogiosa à declaração do senador Aloysio Nunes Ferreira que recusou a conciliação.

Em 01/11/2014 milhares de pessoas voltaram às ruas em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Belém, exigindo auditoria na apuração das eleições e garantia da investigação do escândalo do petrolão. Em meio à multidão uma minoria, também presente nas redes sociais, portava cartazes pedindo a intervenção militar para remover o PT do poder.

Imediatamente a grande mídia, já alinhada com o governo eleito, destaca esses manifestantes da multidão e tenta caracterizar as manifestações libertárias como sendo mobilizações golpistas de minorias isoladas.

O foco aqui é a preocupação com essa minoria que pensa que a Intervenção das Forças Armadas (FFAA) é o atalho para destituir o petismo do poder. Não existe atalho para uma tarefa dessa magnitude.

Quem deseja destituir o PT do poder de forma definitiva e eficaz, deve se convencer do erro que é pedir a “Intervenção Militar Constitucional” mesmo sem que o PT rompa a Ordem Constitucional de forma inequívoca e comprovada. Isso por que:

a)    As FFAA aprenderam com o golpe militar de 1964. O preço da destituição de um presidente eleito pela força desgasta e os resultados que produz são danosos à democracia e à imagem das FFAA. O resultado da remoção da esquerda do poder pela força em 1964 foi sua volta ao poder em 2002, com fortes riscos de sua perpetuação;

b)    Ao contrário do que ocorreu na Venezuela, onde Chávez, um militar, cooptou seus pares para seu projeto de poder, no Brasil a esquerda não penetrou nas FFAA, muitos menos nas escolas de formação dos militares profissionais. E isso faz muita diferença.

Não sou porta-voz das FFAA. O que digo não é opinião. É informação e análise lógica.

Isto posto, convém que esses golpistas de araque saibam que as FFAA nada farão que fira a Ordem Constitucional. Ou seja, se não for comprovado que o PT fraudou a eleição de 2014, as FFAA não darão um golpe contra a presidente eleita. Se não for comprovado que o PT financiou suas campanhas de 2010 e 2014 com dinheiro proveniente de contas no exterior abastecidas por dinheiro roubado dos brasileiros, as FFAA nada farão contra o governo do PT.

Ou seja, o foco de quem quer derrotar o PT é provar que houve fraude na eleição. Difícil. E/ou, que o PT é financiando ilegalmente com dinheiro roubado dos cofres públicos, depositado no exterior e repatriado para financiar a eleição de Dilma. Mais fácil. Alguma dúvida?

Se o PT tentar impedir a investigação do petrolão, ou tentar impedir sua divulgação, valendo-se pra isso de procedimentos ilegítimos, ascender-se-á o sinal amarelo nas FFAA. A ruptura da Ordem Constitucional por parte do PT é o que determina a atitude das FFAA. Esse recado já foi dado a Lula.

Não é por outra razão que o PT quer desmilitarizar as polícias estaduais e centralizar o policiamento ostensivo militarizado nas mãos do governo federal. Não é por outra razão que o PT defende o desarmamento dos cidadãos idôneos que desejam possuir ou portar armas para defesa pessoal. O PT não quer adversários armados.

O PT já dispõe de milícias “desarmadas” tais como o MST e os Black Blocs. Armar essa gente é fácil e rápido. O PT sabe que a os segmentos da sociedade que se opõem ao seu poder são desorganizados, desarmados e que têm entre seus integrantes gente burra o suficiente para propor a reedição do golpe de 1964. Em breve veremos os Black Blocs e as milícias do MST nas ruas agredindo os opositores do petismo. Foi assim em todos os regimes fascistas e comunistas.

Tudo o que o PT precisa é que essa minoria burra siga culpando os nordestinos pela vitória da Dilma. A vitória de Dilma se definiu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, inclusive com votos de parte da "elite branca" do sul. Tudo o que o PT precisa é que aqueles que a ele se opõem defendam o separatismo e o ódio aos nordestinos e um golpe militar.

O que justifica que um opositor do PT que vive no sul se oponha aos antipetistas nordestinos que lá combatem o PT em situação de estado de sítio? Por que abandoná-los ao jugo petista?

As FFAA jamais moverão uma palha em favor de quem joga brasileiros contra brasileiros, nordestinos contra sulistas, pobres contra ricos, negros contra brancos, mulheres contra homens, homossexuais contra heterossexuais, muçulmanos contra cristãos, evangélicos contra católicos. A razão de ser das FFAA é defender a unidade nacional.

Tudo o que o PT deseja é que, aqueles que a ele se opõem defendam a intervenção militar e a ruptura do processo democrático. Assim fica fácil, e rápido, isolar-nos e conquistar a opinião pública. Difícil para o PT, seria enfrentar o povo nas ruas tal como ocorre na Venezuela, sem ter milícias armadas atirando em manifestantes e correndo o risco de ver as FFAA irem para a rua defender o povo e a democracia contra um partido-máfia que busca se perpetuar no poder pela força. O modelo de oposição que o PT precisa e merece é o que o povo venezuelano pratica contra Maduro: ativismo intenso nas mídias sociais e multidões pacíficas nas ruas até o regime cair de podre.